O meu país é o paraíso dos passarões.
Uma fauna de vilões, aldrabões, charlatões, doutorecos, badamecos, perdulários, salafrários.
A jurisprudência não é ciência, tenham paciência!
O direito dá jeito pra condenar quem não é perfeito.
E o passarão, então não?, é um arquétipo da perfeição.
O megaprocesso, que sofre de abcesso, demora até hora que lhe dá jeito, extraordinário feito.
Vai-se arrastando de outono a verão, desfecho provável – a prescrição.
O Ministério, incrível mistério, fundamentou mal, etcétera e tal, pecou no critério.
Os indícios são chouriços.
Vem o julgamento, e o passarão tranquilo, contente.
Inchado, arrogante, sabe que o seu deus é tolerante.
O senhor juiz, de seus nariz e crença, profere a sentença.
E o passarão, que é sabichão, precavido, ladino, fajardão, soube defender-se, não vai à prisão.
E o cidadão honrado, cumprindo seu fado, tão indignado, a vê-los safar-se.
Ouvi a alguém, a pândega derriça: no paraíso dos passarões, a justiça é uma nabiça.
Fiquei cá na minha. Será?
Arre! Chiça!