O conflito entre o Ministério da Educação e os professores tem provocado reações, comentários, críticas, por vezes extremistas, talvez por isso, alguns incompreensíveis, o que nada contribui para que seja encontrada uma solução.
Não entendo- como pode um conhecido comentador televisivo acusar os professores de exigirem retroativos correspondentes aos anos em que a progressão na carreira esteve congelada. Ora, o que os professores reivindicam é que esses anos sejam contabilizados para a progressão na carreira, a exemplo de outros funcionários públicos; por outro lado, e ao contrário do que tem sido divulgado, a progressão dos professores na carreira não é automática, pois, por exemplo, o acesso aos 5º e 7º escalões depende do número de vagas a divulgar pelo Ministério da Educação.
Não entendo- que no agudizar do conflito, o Ministro da Educação se tenha deslocado à Rússia para assistir a um jogo de futebol, indiciando que talvez não estivesse muito focado em encontrar uma solução.
Não entendo- que a Secretária de Estado, Alexandra Leitão, fazendo questão de demonstrar que foi uma boa aluna de Lurdes Rodrigues, use uma linguagem que apenas serve para lançar lenha para a fogueira.
Não entendo- como podem alguns sindicalistas exigir condições prévias para se sentarem à mesa das negociações com o Ministro da Educação. Então o contraditório não é o cerne da democracia? Então, «o tudo ou nada» com que o Ministro da Educação iniciou este processo de negociações, tão duramente- e justamente- criticado pelos sindicatos, foi por eles recuperado?
Não entendo- como é que alguns sindicalistas referem o exemplo dos milhões injetados pelos últimos governos nos bancos para justificarem que o Estado tem dinheiro, e, simultaneamente, critiquem a criação da disciplina de Cidadania e Desenvolvimento. Então, não é através da educação para a cidadania que se formam cidadãos com sentido ético e que recusem a corrupção?
Não entendo- que comentadores e professores critiquem as Aprendizagens Essenciais, quando passaram anos a afirmar que os programas das diversas disciplinas não eram exequíveis devido à sua extensão, o que prejudicava, principalmente, os alunos oriundos de meios sociais mais desfavorecidos, pois os seus encarregados de educação não tinham possibilidade de pagar explicações que compensassem as dificuldades criadas por programas desajustados. Então, a definição dos conteúdos/aprendizagens mínimos a serem trabalhados em todas as escolas não é um fator de justiça e de igualdade?
Não entendo- que alguns sindicalistas afirmem que o trabalho de projeto implique o fim do professor por disciplina, ou seja, «qualquer um pode orientar os alunos na sala de aula», quando apenas se defende que uma parte da carga horária das disciplinas contribua para o total de tempos letivos a trabalhar no trabalho projeto; por exemplo, se a História tem uma carga horária de três tempos letivos semanais poderá contribuir com um desses tempos para o trabalho projeto, restando dois tempos para que o professor, obviamente de História, trabalhe os conteúdos específicos da sua disciplina. (A propósito, quem imaginaria que o corte cego de conteúdos na disciplina de História iria passar ao lado desses comentadores e sindicalistas? – com exceção de um colunista do jornal «Público», professor bem conhecido.
Se o extremar de posições tende a provocar o virar de costas ao outro, a consciência democrática deve impor o caminho do diálogo!