O mundo humanista assiste à chegada da extrema direita ao poder com perplexidade, com a esperança de que se trate de um engano de curta duração do eleitorado. Não, não é. O eleitorado que vota na extrema direita opõe-se ao progresso, recusa aceitar que o mundo pula e avança, e o mundo, nos tempos atuais, avança muito rapidamente. O seu eleitorado tem medo, por isso a extrema direita promete parar o mundo e fazê-lo voltar para trás, o ideal seria fazê-lo regressar ao tempo da Inquisição, e, para o conseguir, os extremistas usam as regras democráticas, anunciando que as resgarão assim que puderem, e não se coíbem de usar a violência. Veja-se o que aconteceu no Brasil, onde os bolsonaristas prepararam um golpe de Estado para impedir a mudança de presidente; veja-se o que aconteceu nos EUA, onde apoiantes de Trump agrediram e mataram para impedir que Biden, democraticamente eleito, cumprisse o seu mandato. Recentemente, o presidente Trump, que diz querer impor a ordem, indultou assassinos de um agente da autoridade. Este mesmo presidente, imperialista e belicista, defende ocupações territoriais, imitando Putin.
A economia globalizou-se, o que se passa no mundo está à distância de um clique, a inteligência artificial já chegou de armas e bagagens para assustar ainda mais os que prefeririam que o mundo parasse, os direitos humanos tornam-se cada vez mais humanos: em muitos países a igualdade de género dá passos em frente, o multiculturalismo é uma realidade e vai dando lugar ao interculturalismo, progressivamente, os homossexuais vão sendo vistos como seres humanos, quem sentir que foi vítima de um erro da natureza até pode mudar de sexo. O eleitorado da extrema direita recusa qualquer tipo de progresso: recusa a globalização, recusa a interculturalidade, logo «quero o meu país de volta», slogan gritado por essa gente. Quem quer voltar aos tempos mais simples e menos incertos do salazarismo, ou mesmo ao tempo da monarquia absoluta, obviamente, odeia o multiculturalismo, ou seja, odeia os imigrantes, tornados o rosto visível de tudo o que é indesejável. Não podem agredir a globalização, então porrada nos que não têm a nacionalidade dos extremistas, não podem agredir a igualdade de género, então pancada e expulsão dos imigrantes. A imigração tornou-se o inimigo público número um dos que querem «o meu país de volta.»
Sim, a extrema direita diz querer combater a corrupção, combater os privilégios dos políticos, mas, quando os seus membros obtêm algum poder, têm motoristas e carros pagos pelo Estado, ou seja, por todo nós, e não têm pejo em apresentar 600 horas extras quando a lei permite apenas 200.
Os progressistas, os que aceitam e defendem o progresso, devem analisar a situação política de forma aprofundada, pois trata-se de choques culturais e não de balões que enchem, mas logo esvaziam. Tolerar turismo de saúde, consentir que grandes criminosos enredem o funcionamento da justiça até à impunidade, permitir a existência de redes ilegais que ganham milhões com a imigração, são alguns exemplos de tiros no pé que fazem crescer o medo de parte do eleitorado, o que vota na extrema direita.