A Lusoponte anunciou a pretensão de aumentar os preços das portagens nas pontes 25 de Abril e Vasco da Gama em 9,3%. O Primeiro secretário da Área Metropolitana de Lisboa avaliou como péssima a prestação da Alsa Todi na operação da Carris Metropolitana. Supressões recorrentes nos serviços da Transtejo e Soflusa. Comboios da Fertagus cada vez mais sufocantes. E um Metro Sul do Tejo que continua a não passar da Universidade. Em pleno período de aflição económica para as famílias trabalhadoras, as Autarquias e o Governo têm falhado o compromisso por políticas públicas para garantir o acesso da população da margem sul à mobilidade.
Não é surpresa que os transportes coletivos tardem em recuperar todos os passageiros anteriores à pandemia: a margem sul há muito que está habituada a uma oferta de mobilidade insatisfatória. Mas os últimos ultrapassaram todos os limites. Nas paragens e estações, a conversa é sempre a mesma: “Mais um dia que o autocarro não passa!”, “Não sei como vou para o trabalho hoje”, “Não há barco. E agora?”. A confiança dos utentes nos transportes coletivos do distrito parece estar num estado negativo recorde, e as razões para isso têm sido denunciadas pela população e pelo Bloco de Esquerda.
Enquanto a justiça climática assume uma presença gritante na conversa civil e mediática, muitos metem a mão ao volante para cumprir a necessidade diária de ir para o trabalho, para as aulas, para os afazeres. Mas nem essa opção está livre de embaraços. Para além da óbvia falha no objetivo de reduzir as emissões carbónicas, a classe trabalhadora sente cada vez mais o aumento obsceno do preço dos combustíveis. A par do empobrecimento geral através da perda do poder de compra, o setor da energia apresenta lucros históricos, aproveitando-se do contexto inflacionário para distribuir milhões aos acionistas.
O Bloco de Esquerda propôs desde logo a tributação destes lucros excessivos. O Governo negou a sua existência, sendo preciso uma proposta da Comissão Europeia para Fernando Medina falar de lucros inesperados. Mas inesperados para quem? Certamente não será para quem vai à bomba de gasolina antes de se deslocar para o trabalho.
Em Almada, o Bloco de Esquerda propôs que a Câmara Municipal de Almada expressasse a sua oposição ao aumento previsto dos custos das portagens na ponte 25 de Abril, exigindo junto do Governo um travão a estes aumentos, que, a partir de janeiro de 2023, traduzem-se numa despesa mensal que ultrapassa os 45€ para um único trabalhador que tenha de atravessar a ponte diariamente. 45€ por cima dos 850 milhões de euros que os contratos de renegociação da parceria público-privada da Lusoponte já custaram aos contribuintes.
O Partido Socialista abrigou-se na recente declaração do primeiro-ministro, que “nada justificaria que as portagens subissem 10%”. Faltou indicar que António Costa apenas se pronunciou sobre as concessionárias das autoestradas, sem qualquer menção ao caso da Lusoponte. O Executivo Municipal de Inês de Medeiros escusou-se a tomar posição concreta sobre a matéria. A proposta foi chumbada, com os votos contra do PS e do PSD, evidentemente mais preocupados com o contrato com a Lusoponte do que com o aumento do custo de vida da população.
Se não promovem uma real alternativa através dos transportes coletivos, nem atuam pelo menos na contenção dos encargos das famílias e empresas com os transportes particulares, resta a questão: com que mobilidade ficamos? Não conseguindo encher o depósito, e na falta do autocarro, a muitos resta apenas a hipótese de ir nado até ao trabalho.