O SNS tem enfrentado inúmeros desafios. Muitos fatores contribuem para isso, mas, de forma geral, é consensual que muitas das dificuldades resultam de problemas de gestão. No entanto, as lideranças das unidades de saúde nem sempre parecem estar à altura das necessidades, muitas vezes por falta de competências específicas ou de uma visão estratégica clara.
O problema não é novo. Um dos aspetos mais criticados é o processo de nomeação para cargos de gestão, em particular para os conselhos de administração. Infelizmente, em muitos casos, essas nomeações parecem influenciadas mais pelo cartão partidário do que pela avaliação das capacidades de gestão. Esta prática fragiliza a eficiência do sistema e compromete a confiança dos profissionais e utentes nas suas lideranças. Por este motivo, é preciso repensar os critérios de nomeação, que devem basear-se em competências e experiências comprovadas, com a meritocracia a prevalecer – não as afinidades políticas. Só assim garantimos que quem lidera hospitais tem as ferramentas necessárias para enfrentar os desafios do dia-a-dia e pensar a longo prazo. Outro ponto é a necessidade de uma avaliação contínua e rigorosa de resultados, com mecanismos de avaliação transparentes e objetivos. Estas avaliações devem fundamentar as decisões sobre exonerações, reconduções ou nomeações. Sem critérios claros, é impossível garantir que as mudanças (ou não) são feitas com base na competência e desempenho e não por mera conveniência.
Na minha opinião, lideranças que não respeitam os seus profissionais são inaceitáveis e devem ser substituídas. As equipas médicas, de enfermagem, técnicas ou operacionais – o coração das unidades de saúde – merecem líderes que valorizem o trabalho e ouçam as preocupações. Da mesma forma, gestores sem visão de futuro, estratégia ou que se acomodam perante problemas que podem resolver, falham no seu papel e devem ser substituídos.
Recentemente, assistimos à substituição do conselho de administração da Unidade Local de Saúde de Almada-Seixal. Em coerência, e independentemente da minha opinião, é importante que o Governo e a Direção Executiva esclareçam os motivos desta decisão, para sabermos se os interesses dos utentes e dos profissionais estão a ser salvaguardados. Sobre o futuro, desejo um excelente trabalho ao Jorge Seguro Sanches (que aqui escrevia e que conheço por ter sido deputado do Partido Socialista) e a toda a equipa.
Este artigo é sobre lideranças, mas, como referi, os fatores que contribuem para as dificuldades do SNS são vários. Por isso tenho insistido na necessidade de uma reforma mais profunda, com a abertura do sistema a diferentes formas de gestão. Sem uma mudança estrutural no modelo de saúde em Portugal, os hospitais continuarão à beira da rutura, os profissionais desmotivados e a população sem acesso a cuidados de saúde de qualidade. Como já tenho dito, não podemos continuar a investir em soluções temporárias que não resolvem os problemas de base.
Numa nota final, apenas dizer que o Hospital Garcia de Orta é o “meu hospital”. Não só por ser o maior hospital do distrito de Setúbal – o meu distrito e pelo qual fui eleita -, mas porque cuida da minha família. É o hospital que salvou, muitas vezes, avós, tios e primos, e que os viu morrer quando mais nada podia ser feito. É por isso que destaco esta substituição, mas, obviamente, esta reflexão aplica-se a todo o país.