Legitima a pergunta, compreensível a reflexão, perante a atual situação a que chegou o nosso bem-estar social e a classe política que nos governa, e a poucos meses do meio seculo da revolução que os trouxe, ou revelou. Revolução, que nos levou ás avenidas das nossas cidades e por elas, de cartazes numa mão e punho cerrado na outra e cravo na lapela, desfilar gritando: abaixo o capitalismo, abaixo a ditadura, igualdade e liberdade de falar, de trabalhar e principalmente, de votar e escolher.
E se a paz, o pão, a saúde e a habitação nos era devido, e tê-lo em igualdade e liberdade, só nos permitia a Democracia, nela crendo, por ela lutámos usando a “arma” que só a própria garante: o voto livre.
E com ele, na urna depositado, eleição após eleição, o nosso Alentejo livrámos dos latifundiários, portugueses donos de grandes plantações, exploradores de quem para eles trabalhava muito, ganhando quase nada. Com ele, derrubamos os que se viam donos da nossa terra, os banqueiros e outros, empresários gananciosos, multimilionários, que á custa do trabalho alheio e com a riqueza de todos, a deles apenas criaram. E a quem chamávamos fascistas. A terra, seria de quem a trabalhasse, o operário seria justamente pago, a casa seria de cada um e o país, de todos nós e a porta do hospital, abrir-se-ia a todos por igual. Caminho difícil, sozinhos, assim o sentimos e um pouco ás cegas, para a família europeia entrámos. Aceitando as regras, mudando a moeda, pescando menos, cultivando diferente, produzindo e mercantilizando em conjunto e de par-em-par, abrindo á globalização nossas portas. Para o dinheiro da família e tudo o mais, que o mesmo trouxesse. E trouxe, á mesma terra e á custa dela e daqueles que mal, quando pagos, a trabalham, descumunais explorações agrícolas foram criadas, construtoras de fortunas, agora de estrangeiros. Trouxe a corda ao pescoço do pequeno comercio, no cadafalso dos grandes espaços, de administradores ricos e empregados pobres, num mais barato nem sempre real. Trouxe casa cara para quem tem pouco e vantajosa para quem tem muito, nos bancos que exibem lucros imensos, cobrando muito pelo dinheiro deles e rentabilizando pouco, ou nada, o nosso. É certo… temos o turismo e a ele nos agarramos, frágil boia de salvação, num mundo social de mares revoltos.
E se hoje nos perguntamos precisamente, sobre: que Democracia é esta? Não nos podemos, para começar, isentar de culpa, nem esquecer, portanto, que foi ela que nos permitiu escolher o caminho e nele, em quem seguir e acreditar. E se hoje, alguns deles nos desiludem, revelando-se destituídos de ideais, comprometidos com o inverso do que pregam e outros, defraudam a classe, servindo-se da Democracia em proveito próprio, em vez de em nosso nome a servirem. Sabê-lo, grita-lo ao mundo e sobre eles, juízos fazer, justiça exigir e o nosso destino, numa escolha futura mudar: a ela, democraticamente o devemos.
Cinquenta anos, idade madura de uma revolução que nos trouxe um país renovado, numa Europa inserido e membro relevante, nos cargos e sua representação. Berço de gente boa, forte e talentosa, do desporto á política, passando pela ciência, tecnologia e muito mais. Cinquenta, idade de reflexão de um país que tem que aprender a escolher melhor o que quer, pois o que não quer, Portugal sabe-o bem: voltar para trás, não!