Na semana passada, Inês de Medeiros apresentou o Orçamento da Câmara Municipal de Almada para 2025. Francamente, é um documento com muito pouco de interessante para o nosso concelho. Mas afinal, são já sete anos de governação autárquica conjunta de PS e PSD e ao longo destes mandatos habituámo-nos a promessas, ao conformismo e a projetos de privilégio. Não seria este orçamento diferente dos outros todos. É só mais um que representa o programa de desinvestimento do PS e do PSD.
Sendo um orçamento, não vou dedicar estes parágrafos a dissecar números. Muitos milhões numa rubrica para habitação podem traduzir-se no despejo de famílias, numa política de promoção da habitação de luxo, ou mesmo em nada. Muitos milhões para a mobilidade podem traduzir-se em concessões do serviços de transportes ou na política de alcatrão por todo o lado. Muitos milhões numa proposta de orçamento podem ser o biombo de uma política de cativações e restrições orçamentais que não podemos antecipar. Ano após ano, Inês de Medeiros exclamou pelo “maior orçamento de sempre”. A realidade é que a grandeza não se materializou num território melhor para a população almadense. Para além dos números, é preciso conhecer a estratégia com que serão executados.
Ao longo de setes anos, o Bloco de Esquerda apresentou inúmeras propostas – quase todas recusadas pelo Executivo PS/PSD, ou ignoradas, e mesmo as poucas aprovadas, a sua implementação foi desvirtualizada ou arrastada eternamente. Houve sempre oportunidade e abertura para a discussão de ideias, para apresentar uma visão para Almada. A sra. presidente Inês de Medeiros e o Partido Socialista nunca quiseram sair do seu lugar e construir um projeto de transformação. Não seria agora que o iria fazer, com meros meses de governação restantes. Um Executivo que não governa à esquerda, não tem razões para esperar o voto favorável da esquerda.
Diziam que se tinham entendido com o PSD por um bem maior. O bem maior ainda está por se ver e, afinal, não havia interesse em bem maior. A abstenção do vereador do PSD demonstrou a barganha política que caiu de podre. Não sendo vidente, a manutenção da abstenção do PSD ao Orçamento na Assembleia Municipal significa o chumbo do mesmo. E daí importa retirar responsabilidades. Este é um documento que espelha o pensamento do PS do PSD. Cabe a estes partidos responder pelo orçamento e pelos oito anos de governação conjunta. O corte tacticista do PSD – depois de ter sido penalizado nas últimas eleições autárquicas – não engana ninguém. Já a previsível vitimização do PS não pode ser direcionada ao Bloco, como já têm ensaiado, mas sim ao seu parceiro de governação de sete anos.
Um orçamento e uma Câmara de especulação imobiliária contra o direito à habitação. De lucros às grandes empresas contra baixar a fatura da água às famílias. De externalizações privadas contra os serviços públicos. De mais estradas contra transportes de qualidade. De brigas artificiais contra os reais falhanços de PS e PSD. No final de contas, este orçamento é em tudo mais do mesmo.