Em julho passado, o Papa Francisco fez um apelo à leitura. Ora, recordando que Francisco foi professor de Literatura e que conhecerá melhor que ninguém as dores da humanidade, o seu apelo deveria ser o apelo dos responsáveis pela educação, dos professores e, sei lá, de tantos outros.
O mundo está em convulsão, o mundo poderá desmoronar-se se a extrema direita, impulsionada nas fake news- meias verdades, ou informações distorcidas- meio usado com sucesso por Trump, continuar a avançar em direção ao poder.
Perante a possível catástrofe, qual será o melhor remédio, a melhor prevenção? Ler obras literárias, repito ler obras literárias, de modo a combater a obsessão pelo ecrã, a pseudo leitura tipo telegrama, leitura do imediato, a qual não cria memórias nem permite uma relação do leitor com o texto e que, não só não forma, como é uma leitura que desinforma.
Caro leitor, promova nos seus filhos, nos seus netos, nos seus amigos, nos seus vizinhos o gosto pela literatura. Fale-lhes sobre uma das obras que tenha lido, sobre as vivências das personagens que, afinal, foram as suas próprias vivências. Sentiu, ou não sentiu os dramas, as angústias, as alegrias de cada uma delas? Correu, ou não correu mundo na companhia dos bons, recusando acompanhar os maus? Viveu tantas experiências e, sem sair de casa, o seu «eu» enriqueceu-se, desenvolveu a sua capacidade de resiliência – ficou melhor preparado para enfrentar dificuldades futuras -, alargou o seu conhecimento, combateu o stress e a ansiedade. Conquistou felicidade!
Ao ler obras literárias tornamo-nos cada vez mais humanos, cada vez menos animais irracionais. Preparamo-nos para resistir aos impulsos primários, para compreender «o outro» na sua complexidade e circunstância, para dizer sim ou dizer não, para distinguir o bem do mal, tornamo-nos mais capazes para tomar posição sobre valores morais e políticos, para admirar a filosofia, a arte, para compreender os contextos em que se deram os acontecimentos históricos – preservação da memória – somos, cada vez mais, um animal ético e moral.
Um animal ético e moral criva a informação, logo rejeita as fake news; um animal ético e moral jamais cumprimentará, em pleno dia, uma deputada negra com «boa noite»; jamais chamará «vaca» a uma outra deputada. Este tipo de comportamentos seria muito de surpreender em animais irracionais que, sendo seres amorais e regidos por instintos, não são capazes de comportamentos imorais nem de afirmarem uma pretensa superioridade do «eu» perante o outro: racista ou misógina. Um animal ético e moral diz não à pena de morte e à prisão perpétua, porque sabe que toda e qualquer pena deve ter em vista e regeneração do criminoso e «um esqueleto não se regenera», nem um ser humano encerrado o resto da sua vida numa prisão. Um animal ético e moral reconhece que a dignidade humana é uma dádiva divina, já que Jesus Cristo afirmou: «somos todos filhos de Deus.»
Ler é um dos caminhos para a felicidade!