Uma das grandes vantagens de estarmos em período de férias, quer sejam estivais ou de qualquer outra natureza, é o facto de podermos relaxar e ter uma outra disponibilidade para ler.
Normalmente ando sempre com um livro nas mãos; todavia, as férias permitem uma outra quantidade de leitura.
A leitura melhora a língua falada e escrita, melhora o entendimento, liberta a imaginação e refina o espírito crítico, motor do desenvolvimento humano.
Para mim, todos os livros e as vivências que vamos tendo ao longo das nossas vidas constituem actos de Cultura, uma vez que esta não é tudo aquilo que nos entra pelos olhos e ouvidos, mas aquilo que altera decisivamente a nossa percepção do que nos rodeia.
E, portanto, aí vai mais um livro. Este já tive ocasião de o reler por diversas vezes, ao longo dos anos.
Quanto a mim, os bons livros devem ser lidos, relidos, por vezes mais de uma vez. O mesmo livro lido em fases diferentes da nossa vida, adquire um significado diferente, uma vez que procuramos e encontramos nuances e subtilezas, muitas vezes ocultas nas primeiras leituras.
Hoje irei falar de um livro que também me marcou de forma indelével, mas determinante e que foi o livro intitulado “Raízes” do escritor norte-americano Alex Haley, editado em 1976, livro esse que conta a história do seu antepassado africano chamado Kunta Kinte, sete gerações antes de Haley e que tendo saído da sua aldeia de Juffure na Gâmbia, provavelmente para ir à procura de um tronco, com o objectivo de fazer um tambor, foi capturado por mercadores de escravos e levado para os Estados Unidos, no século XVIII.
Umas tias idosas de Alex Haley sabiam ainda algumas palavras ditas por Kunta Kinte no seu idioma Mandinga, bem como um conjunto de histórias rigorosas e verídicas contadas com elevado grau de pormenor e detalhe que foram sendo transmitidas de geração em geração até chegarem às referidas tias, o que estimulou o interesse de Haley em ir à procura do seu passado.
Por outro lado, através de uma pesquisa árdua, difícil e prolongada por parte de Alex Haley, conjugada com uma sorte incrível, fez com descobrisse quais as suas origens africanas, os registos escritos relativos ao barco negreiro que transportou o seu antepassado, confirmando a sua presença, bem como, não só o país (actual Gâmbia), como inclusivamente a aldeia de onde provinha o seu antepassado Kunta Kinte.
Este livro constituiu, na altura, um campeão de vendas (anos 70), proporcionando a Alex Haley a conquista do Prémio Pulitzer.
A obra foi posteriormente adaptada para a televisão, numa mini-série que arrebatou nove prémios Emmy e um prémio Peabody, tendo representado um marco na história da televisão.
A leitura regular deste livro será sempre uma bofetada na mente e na percepção, na nossa “cartografia de sonhos” que muitas vezes colide com a constatação deste flagelo que acompanhou, (e que, infelizmente, acompanha ainda), desde tempos imemoriais, a Humanidade: a escravatura, uma das formas mais indignas, repugnantes, vis e cruéis de relacionamento humano.
A crueza da narrativa de Haley choca-nos pela sua autenticidade, pela descrição exacta e exaustiva das múltiplas formas que se reveste a escravatura, inserida num contexto mais amplo.
Eis mais um livro que recomendo vivamente.