Gosto muito do mês de Julho. Embora ainda não esteja de férias, já cheira a férias. O cheiro inebriante a peixe grelhado invade a cidade e também os nossos sentidos.
Em termos gastronómicos, sou um homem de gostos simples. Sou um particular apreciador de peixe, ou não fosse eu um setubalense.
Exceptuando a faneca frita, da qual não sou grande apreciador, relativamente a peixe, marcha tudo. Massacotes, carapaus, besugos, salmonetes, pargo, sarda escalada, são também dos meus peixes preferenciais
Mas não só. Choque frrite, polvos, lulas, marisco, marcha tudo também.
Contudo, um dos meus pratos favoritos é a boa sarrdinha cá da nossa terra, a pingarr, com uma fatia de pão alentejano por baixo, uma bela salada de tomate, alface, pimentos, cebola e orégãos, bem temperada, tudo regado com um bom vinho cá da região.
Deem-me isso e sou um homem quase satisfeito.
Remata-se a refeição com um pudim caseiro, um bom café e um copito de moscatel.
E aí, meus amigos, a felicidade é completa.
Voltemos à sardinha. Quando era garoto e os meus colegas e amigos da minha idade torciam o nariz na presença de sardinhas, eu sempre gostei muito. Meus pais eram uns apreciadores e transmitiram-me desde muito cedo, essa preferência gastronómica.
O nome “sardinha” deriva da ilha Sardenha, onde, um dia, já foram abundantes.
As sardinhas são peixes de pequenas dimensões (10–15 cm de comprimento), caracterizam-se por possuírem apenas uma barbatana dorsal, barbatana caudal bifurcada, boca sem dentes e maxila curta, com as escamas ventrais em forma de escudo.
São peixes pelágicos ( não se encontram nem perto do fundo, nem perto da costa) que formam, frequentemente, grandes cardumes e que alimentam importantes pescarias.
Apresentam um importante lípido, o Ómega 3, que se julga ser um “protector” do coração. As sardinhas alimentam-se de plâncton.
Em 2017, a sardinha, com 62.000 toneladas, representou cerca de 45 por cento dos desembarques em peso efectuados em lotas nacionais.
Os desembarques somados da sardinha, cavala e carapau representam quase 65 por cento da pesca total descarregada em portos nacionais.
Contudo, nesse mesmo ano, a população de sardinha atingiu níveis preocupantes e o Conselho Internacional para a Exploração do Mar considera que seriam necessários, pelo menos, 15 anos de suspensão total da pesca para repor o stock em níveis aceitáveis.
A sardinha capturada na costa Portuguesa é a única espécie de peixe em toda a Península Ibérica a obter a certificação de qualidade, como resposta às preocupações sobre a sustentabilidade dos recursos. O certificado de pescado é ambientalmente certificado e assim, a sardinha Portuguesa é pescada legalmente por quase meia centena de embarcações em todo país.
Esta certificação constitui uma mais-valia para toda a pesca e em particular para a indústria conserveira, que exporta quase 50% da sua produção. As normas internacionais caminham para a certificação de todo o pescado, sendo a etiquetagem ecológica uma estratégia de mercado importante. A sardinha é pescada pela frota do cerco, uma arte amiga do ambiente, por não ser agressiva para outras espécies. Esta certificação constitui uma forma eficaz de procurar obter a sua sustentabilidade, deixando de pensar na sua sobrevivência e passar a pensar e planear a sua actividade, com base na durabilidade do recurso.
Procurar equilibrar as pescas de sardinha com a sua sustentabilidade ambiental é um desafio possível e exequível.
Para que possamos continuar a degustar este peixe insubstituível.