Poder-se-ia iniciar esta reflexão pelos territórios das muitas Guerras que infelizmente assolam o nosso planeta, desde logo as que intimidando o Mundo (sobretudo o Ocidental) se iniciaram tendo como pretexto a sua expansão territorial, mas sobre essas Guerras já muito foi (e está sendo) dito. Na verdade o que não falta são comentadores e especialistas da Arte da Guerra, e a mim que não sou especialista na matéria vem-me à memória a peça de Brecht intitulada Mãe Coragem, comerciante ambulante, em que no meio de uma guerra a personagem discorria sobre a mesma dizendo: “A Guerra é Boa, mas também é Má” tratava-se de uma cogitação feita a propósito do facto de entender que a Guerra era boa para ganhar dinheiro mas que a tinha feito perder os três filhos e de cogitação em cogitação, lá vai ela empurrando a sua carroça.
Esta ambivalência faz-me pensar que em última análise os ganhadores das Guerras são simultaneamente perdedores!
Resta-nos, a nós espectadores, das imagens das atrocidades das Guerras que todos os dias nos entram em casa pelos ecrãs reconhecer a nossa impotência e engolir a raiva.
Mas passarei agora a outras territorialidades, as quais, embora em proporções MUITO diferentes mas que podem ser também intimidatórias nos causam desassossego!
Comecemos pela casa de cada um em que o espaço doméstico é, felizmente, na grande maioria dos casos um espaço de segurança, infelizmente existem muitos em que tal não se verifica, mas em outra ocasião voltarei ao tema, continuando nesta linha de raciocinio, da apropriação do espaço diria que em casa o mesmo também tem as suas regras, sendo o quarto (que seja seu) o centro do espaço de cada um, Virginia Woolf em “Um Quarto que seja Seu” discorre sobre a importância desse espaço que sendo “seu” fique invulnerável à apropriação alheia, invulnerável à intimidação territorial do sai daí… Aliás, sabe-se que um dos “castigos” atuais a que mais se recorre com as crianças que não se portaram bem é: Vai para o teu quarto! Já a sala pode ser considerada um território quase neutro, onde a família se reúne, mas também onde se recebem visitantes.
A apropriação do espaço vai-se fazendo consoante a condição e até o crescimento pessoal o permitam. A conquista de “outros territórios” vai acontecendo paulatinamente, quer seja porque a bicicleta nova permite um alargar do espaço vivido quer seja, mais tarde, quando o primeiro carro permite vencer outras distâncias mais longas tornando o espaço pessoal cada vez mais largo.Contudo este alargamento do espaço pessoal é, não raras vezes, travado por disputas e rixas entre grupos residentes e até, não residentes.
A intimidação territorial não se limita à apropriação de espaços em territórios mais ou menos amplos, mas também pode ser dentro de casa, na entrada de um prédio, ou de uma dada esquina ou de, exemplo em exemplo, um prédio inteiro, uma rua, um bairro, uma cidade, um País… mas é sempre uma forma de impor o medo causando desconforto e receio permanente obrigando a um mudar de rumo, a um ir para outro sítio, a um ir por outro caminho, a um colar-se às paredes, a um tornar-se mais pequeno para tentar passar despercebido.
E se isso pode parecer pouco e pequenino, pode não ser… o sarcasmo com que tudo é feito pode tornar-se brutal nas suas consequências e se pensarmos na atuação dos gangues de rufias, dos cartéis e das máfias se calhar constatamos que não difere muito, uma vez mais salvaguardando as devidas proporções, da atuação das incursões militares que produzem as guerras.
E seria tão simples (ingênuo, talvez…) seguir aquele velho ditado: “Não faças aos outros o que não gostarias que te fizessem a ti” mas parece que na avaliação das ações que determinam determinadas consequências entra em “jogo” uma certa moralidade situacional, ora se nem os filósofos que estudaram estas questões chegaram a consenso… por exemplo (e citados de memória) para Stuart Mill o que interessa são as consequências de determinada ação enquanto que para Kant o que conta é a análise do motivo pelo qual o agente realiza determinada ação, posto isto, não nos admiremos que cada um, seja individualmente ou em grupo mais ou menos alargado, possa encontrar sempre motivos para fazerem o que fazem, contextualizando-os segundo os seus interesses próprios.
Pois… mas o objetivo parece ser sempre o mesmo… conseguir mais espaço para uns (com tudo o que isso implica) diminuindo o espaço de outros.
Portanto, parece ser apenas uma questão de escala e de recursos para se executar uma qualquer intimidação territorial.