As lutas do nosso povo pela liberdade, por melhores condições de vida, por respeito e dignidade, por desenvolvimento e modernidade devem muito ao Partido Comunista Português – bastaria lembrar a oposição destacada à ditadura salazarista-marcelista e a ação meritória do partido na Assembleia da República. Os portugueses amantes da liberdade devem ao PCP o apreço e a gratidão pela militância e pelos sacrifícios extraordinários dos seus membros – a clandestinidade, a vida de fugitivos e os sobressaltos constantes; os desterros para África; as pesadas penas de prisão; as vidas familiares destroçadas; os mil maus tratos e humilhações, as torturas e os assassinatos às mãos dos carrascos da PVDE/PIDE/DGS – nos anos anteriores à implantação do Estado Novo e durante o vil regime que nos oprimiu por quase meio século. Sem o PCP, talvez não tivéssemos podido saborear o gosto da liberdade, logo em 1974; sem o PCP, a democracia portuguesa perderia um partido particularmente ativo e capaz na AR e na sociedade; sem o PCP, a luta sempre árdua dos trabalhadores e dos mais desfavorecidos em geral, contra os garganeiros que sempre os exploram e os poderes que tendem a ignorá-los, redundaria muito mais dificultosa.
Que tristeza ver o Partido Comunista Português, lutador de mais de um século (1) e com motivos sobejos para se orgulhar da sua História e seguir livre de vassalagens obsoletas, aferrado ao ideal da União Soviética! Como se a URSS tivesse sido algum paraíso terreno – quando foi um inferno de repressão para os russos, bem como para a infinidade de povos subjugados, que, à primeira oportunidade, trataram de se libertar.
A tentativa de justificar a invasão da Ucrânia, a guerra e os horrores impostos ao povo ucraniano, inscreve-se na simpatia pela URSS, que perdura entre os comunistas portugueses, apesar de tudo. E os argumentos, claro, desprezam o fundamental: a Ucrânia é um país independente, com uma independência reconhecida pela própria Rússia e pela comunidade internacional, e um povo orgulhoso de si e da sua pátria livre. Por tanto, e por não haver agredido a Rússia, não podia ter sido invadida. As barbaridades que os agressores estão a cometer, dão-nos ainda mais razão para condenar Putin.
A trapalhada do acolhimento da Câmara Municipal de Setúbal aos refugiados ucranianos é outro episódio lamentável que envolve o PCP, na pessoa do Presidente da edilidade. Entregar a um casal de russos responsabilidades no acolhimento a ucranianos, no contexto da guerra entre os dois países? Decisão pouco avisada, irresponsável – no mínimo. Pior, se os russos em causa têm ligações ao Kremlin e são (supostamente, vá) concordantes com as ambições geoestratégicas, a política expansionista e as crueldades de Putin.
Que tristeza ver o PCP enleado nestas incongruências!
(1) O Partido Comunista Português foi fundado em 06/03/1921.