“O Vitória mete-se no nosso coração e nunca mais de lá sai”
Mário Venâncio
A notícia apanhou-me completamente de surpresa. Morreu o Maresas. Tinha 93 anos.
Não existe vitoriano que se preze que não tenha conhecido e convivido com o nosso querido e já saudoso Maresas, sempre vestido de verde e branco, deambulando ao redor e dentro das instalações do Vitória.
Mário Venâncio era sobrinho de um dos fundadores do Vitória Futebol Clube: Joaquim Venâncio.
Os outros dois fundadores são Mário Lêdo e Mariano Coelho. A 20 de Novembro de 1910, os três fundaram um clube pequenino que ficou bem na memória e com os anos cresceu, entranhado no destino com o nome de Vitória.
Mário Venâncio era primo da minha colega e amiga, professora Manuela Venâncio, filha de Pedro Venâncio, que por sua vez é filho do fundador, Joaquim Venâncio.
Portanto, estamos a falar de uma família estruturante que sente o Vitória como ninguém.
Mário Venâncio não era excepção.
Em 2019, estivemos os dois a conversar numa sala do nosso Estádio do Bonfim.
Recupero uma parte da crónica que escrevi na ocasião. A sua memória merece.
Mário Venâncio trabalhou durante dez anos nos barcos que efectuavam a ligação a Tróia.
Quase toda a sua vida profissional foi passada na Marinha Mercante. Visitou locais tais como a Rússia, Tailândia, Macau, Hong Kong, China, Inglaterra.
Sócio desde 1963. Vitoriano desde sempre.
Recordava com muita satisfação as Taças de Portugal de 1965, 1967 e 2005. Recordava também a 1.ª Taça da Liga em 2008.
Uma das taças que recordava com particular intensidade, foi a conquista da Taça Teresa Herrera.
Mário Venâncio foi de Setúbal até à Corunha, para assistir a essa conquista memorável.
Estávamos em 1968, no Estádio Riazor (Corunha) e o resultado final foi Vitória, 2 – Rapid de Viena (Áustria), 1.
O treinador era Fernando Vaz e a equipa foi a seguinte: Vital, Conceição, Herculano, Carlos Cardoso, Carriço, José Maria, Tomé, Wagner, Vítor Baptista, Guerreiro, Figueiredo, Arcanjo, Armando.
Marcaram pelo Vitória, Guerreiro e Arcanjo. Esta era uma equipa de sonho, recheada de jogadores de altíssima qualidade.
Mário Venâncio sempre foi um homem reflexivo. Apontava como aspectos a melhorar, a inexistência de uma sede social, onde os vitorianos possam conviver.
Era da opinião que os sucessos desportivos não acontecem por acaso e que um dos motivos pelo qual esses andam arredios do Vitória, é pela inexistência de uma direcção forte, coesa e duradoura, tal como sucede com António Salvador e o Braga.
Mário Venâncio sustentou sempre que as sucessivas direcções não têm tido o tempo, o engenho e o vitorianismo para conseguirem estabilizar o Vitória.
Também era da opinião que se torna absolutamente necessário um estádio novo. O Estádio do Bonfim está inexoravelmente a ficar para trás, velho, obsoleto, sem ter as condições mínimas para jogos.
A esmagadora maioria dos clubes da 1.ª Liga já tem instalações melhores que as do Vitória.
Mário Venâncio sempre foi um homem simples, modesto e discreto. Foi sempre um prazer e um privilégio conversar com ele. Passava grande parte dos seus dias nas instalações do Estádio do Bonfim que considerava a sua segunda casa.
São este tipo de vitorianos que me inspiraram e que me inspiram a ser uma pessoa melhor.
Mário Venâncio afirmava que seria capaz de morrer pelo Vitória.
Representava o Vitória Futebol Clube no seu estado mais elevado, nobre, puro e desinteressado.
Caro amigo Maresas. Onde quer que se encontre, envergue sempre essa maravilhosa camisola verde e branca vertical que trazia sempre consigo.
Até sempre.