Fomos, Somos e Seremos Sempre Vitória Futebol Clube

Fomos, Somos e Seremos Sempre Vitória Futebol Clube

Fomos, Somos e Seremos Sempre Vitória Futebol Clube

, Professor
15 Maio 2023, Segunda-feira
Professor

Nem sei bem por onde começar, o que pensar, o que escrever, a quem me dirigir.
A dor entorpece-me os sentidos; o desalento, a tristeza, a desilusão, a angústia percorrem todo meu ser.
Estou a navegar à deriva, sem rumo, sem saber mesmo o que hei-de dizer.
Nada do que possa dizer ou escrever pode mitigar a enorme dor que estamos a sentir nestes dias muito nublados.
As lágrimas teimam em desfocar o ecrã do computador. Não consigo ver nítido, nem de forma literal, nem metafórica.
Não consigo escrever; tenho de me levantar e ir arejar a mente e o espírito.
A pausa não me trouxe a necessária paz para sequer estruturar uma narrativa articulada. Escrevo aos repelões, sem sequencialidade, nem coerência.
Vem-me de imediato à memória a primeira pessoa que me incutiu o amor pelo Vitória; o meu avô materno, o Avô Carlos, alentejano de nascimento, mas setubalense e vitoriano do coração que exultou de alegria quando o Vitória venceu aquela que seria a sua primeira Taça de Portugal. Meu Pai, italiano convicto, mas também ele um setubalense e vitoriano do coração, aplaudia com muito entusiasmo os golos que o Vitória marcava à Fiorentina e ao Inter de Milão.
Habituei-me a conviver com vitorianos eméritos: Mário Ledo, Fernando Pedrosa, Francisco Nascimento, Josué Monteiro, Conceição Casaca, André Ferreira, Nicolau da Claudina, Agostinho Alpendre, Rogério Vaz de Carvalho, Alcides Gomes, Fernando Tomé, Carlos Cardoso, Rui Salas, José Madureira Lopes, Luís Filipe Paixão, Rogério Paixão, Helena Parreira, Fernando Belo, Vítor Belo Dias e tantos, tantos outros que povoam as nossas memórias mais recônditas e os nossos afectos sempre presentes.
O Vitória é muito mais do que todas aquelas equipas intemporais verdes-e-brancas que sempre ocuparam o espaço físico de um campo de futebol. É toda uma dimensão emocional que vai muito para além do Estádio do Bonfim; é o clube da nossa terra, aquele que nos faz vibrar as entranhas.
Ser do Benfica, Porto e Sporting é outra realidade menos tangível; são desses porque são os melhores; se fossem outros quaisquer, a preferência iria para aqueles outros. É uma dimensão respeitável, mas discutível. Mais fácil. Mais gregária. Menos genuína.
Connosco é diferente. Completamente diferente.
A tendência recorrente nestes casos é ir sempre à procura dos bodes expiatórios; de quem é a culpa pelo facto do Vitória ter chegado a este estado miserável?
É uma tentação que não conduz a lado algum.
Pelo contrário, é precisamente nestas ocasiões que devemos fazer uma introspecção e procurar reflectir sobre aquilo que cada um de nós poderia ter feito e não fez.
Hoje são dias tristes; muito tristes. Dias de desalento, de tristeza, mágoa, desgosto. Dias que não fazem sentido; dias vazios.
As memórias gloriosas, as finais, as taças ganhas, as competições europeias, tudo isso se esbate perante a crueza de (mais) uma descida de divisão.
O Vitória Futebol Clube é um dos clubes mais prestigiados e categorizados do desporto em Portugal.
Todavia, a evocação romântica e quimérica do passado colide drástica e dolorosamente com a realidade crua e aparentemente irreversível do presente que condiciona fortemente o futuro.
Chegados a este ponto, quase ponto de não retorno (tal como dizia Francesco Alberoni com o Amor), o que é que nós, vitorianos, podemos fazer? Como é que podemos ajudar a tirar o Vitória Futebol Clube deste maldito lamaçal pantanoso, do qual se foi progressivamente aproximando e no qual está e se encontra completamente atolado?
Estou, sinto-me e mantenho-me completamente atordoado.
Olho para o meu emblema de ouro, correspondente aos 50 anos de sócio e sabe-me a pouco.
O brilho do emblema perde o encanto. O olhar perde o brilho. A tristeza ofusca tudo em redor.
Todavia, estou aqui; estamos aqui. Estaremos sempre aqui. Dolorosa, mas corajosamente.
Na segunda-feira seguinte ao desastre, a minha querida aluna Margarida Marques do sexto ano, apresentou-se na aula com a costumeira camisola do Vitória, aproximou-se e disse-me: “professor, estamos aqui; seremos sempre do Vitória”.
Não consegui conter as lágrimas.
Estaremos sempre aqui, com o coração em frangalhos, mas sempre, em qualquer circunstância, orgulhosa e resolutamente Vitória Futebol Clube.

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