FERTAGUS – fartos de ver passar comboios cheios

FERTAGUS – fartos de ver passar comboios cheios

FERTAGUS – fartos de ver passar comboios cheios

29 Janeiro 2025, Quarta-feira
Joana Mortágua

São sete horas e nove minutos da manhã na estação do Pragal. Está uma multidão na plataforma à espera do comboio, que já vem com atraso, para ir para o trabalho ou para a faculdade. Quando chega o dito comboio começam os empurrões, desesperados para conseguir apanhar o transporte de que dependem. Abrem-se as portas e as quatro carruagens estão de tal forma cheias que, por mais que tentemos, é impossível de entrar. Neste impasse, quem já estava atrasado já desistiu de chegar a horas. Durante a viagem, há quem passe mal, sufocados na lata de sardinhas bem apertadinhas. Ao final da tarde, o retorno é semelhante. E assim é o dia-a-dia de tantos passageiros dos comboios da Fertagus.

 Em dezembro, a Fertagus alterou os seus horários, passando a haver comboios a cada 20 minutos, quando antes eram de 30 em 30 minutos, algo há muito exigido pelos utentes.

- PUB -

Estas alterações resultam da aprovação pelo Governo da prorrogação do contrato de concessão da Fertagus por mais 6 anos e 6 meses, até março de 2031. Este prolongamento serviu como alternativa ao pagamento da Reposição do Equilíbrio Financeiro, pedido pela empresa como compensação dos prejuízos durante a pandemia.

O prolongamento da concessão previa o aumento da oferta do horário de transporte ferroviário, mas não acautelou o material circulante necessário à operação, material este que é propriedade do Estado e é concessionado à empresa. Então, o aumento das frequências fez-se à custa da redução das carruagens em circulação, tendo-se reduzido para metade o número de carruagens por comboio. Os comboios que antes partiam de Coina agora partem de Setúbal, chegando a Almada, naturalmente, ainda mais cheios do que antes.

Escusado será dizer que comboios simples de quatro carruagens em plena hora de ponta são simplesmente insuficientes. O resultado é a lotação completa dos comboios, com cenários especialmente conturbados nas estações de Coina, Fogueteiro, Foros de Amora, Corroios e Pragal, onde não entra praticamente ninguém.

- PUB -

Apesar de não ter resultados negativos, a Fertagus pediu uma compensação de 6,76 milhões, tendo sido acordado um valor final de 5,5 milhões de euros. Enquanto a Fertagus é compensada, apesar de saldos financeiros razoáveis, a qualidade do serviço tem vindo a deteriorar-se.

Não tenho de explicar a importância da ferrovia e dos transportes públicos no desenvolvimento das nossas cidades, da coesão territorial e no combate às alterações climáticas. Desde que começou a operar o comboio em 1999, a Fertagus transportou 498 milhões de passageiros e estima ter retirado cerca de 80 milhões de automóveis da Ponte 25 de Abril.

O passe social foi uma conquista essencial, garantindo às populações transportes a preços acessíveis. Mas o aumento da procura pressionou o serviço da Fertagus, que até então era considerado tão excecionalmente bom. Afinal o serviço não era bom por ser privado, mas sim por ser proibitivamente caro.

- PUB -

Não é que as alternativas sejam muitas ou brilhantes: sabemos a situação em que estão os barcos da Transtejo/Soflusa ou os autocarros da Carris Metropolitana e tarda a tão prometida extensão do Metro. A situação da mobilidade em Setúbal está complicada para quem depende dos transportes.

O Bloco de Esquerda já fez a sua exposição ao Governo sobre o contrato de concessão, questionando sobre como serão colmatadas no imediato as necessidades prementes nos períodos de ponta. Sendo o Estado o proprietário dos comboios e carruagens, o que prevê o novo contrato quanto à sua utilização? Há 25 anos que a Fertagus tem o mesmo material circulante. Só o reforço das carruagens vai resolver este problema.

Passou mais de um mês e nada mudou: todas as manhãs a população do distrito de Setúbal continua a sofrer para apanhar o comboio. A Fertagus não está a cumprir o serviço público a que está obrigada e está a vedar a milhares de trabalhadores do direito à mobilidade. Estamos fartos de ver passar comboios… cheios.

Partilhe esta notícia
- PUB -

Notícias Relacionadas

, Mestre em Sociologia
29/01/2025
, Ex-bancário, Corroios
28/01/2025
- PUB -
- PUB -