Quem vence as eleições tem o direito de governar, de tomar decisões, de concretizar medidas e, em suma, de cumprir as promessas feitas em campanha eleitoral. Nestes termos, é entendível que o programa da CDU seja para o presidente da autarquia e para os vereadores a tempo inteiro, a linha orientadora da sua acção política.
Contudo, não nos podemos esquecer da nova realidade que as recentes eleições autárquicas trouxeram ao nosso concelho. Com efeito, os vereadores sem pelouro têm maioria e nem hoje, nem nunca, os vereadores eleitos pelo PS deixarão de assumir as suas responsabilidades e de apresentar aquelas que consideram ser as melhores soluções para o concelho.
Este é, pois, o tempo de agir em diálogo e na busca de consensos. Infelizmente, esse não tem sido o caminho, com alguns a teimar não perceber a nova realidade e demonstrarem enormes dificuldades em aceitar e lidar com o novo xadrez político.
Ora, depois do prazo de referência habitual e sem que exista despacho a nomear a Comissão Organizadora, foram os vereadores socialistas surpreendidos com a proposta de Edital para a Feira de Sant’Iago 2022, acompanhada pela Tabela de Taxas Municipais no que ao certame diz respeito.
Edital no qual se destaca a redução dos dias de certame, de 16 para 10 dias, sem justificação e sem que essa significativa diminuição seja vertida numa redução nas taxas.
Saudando o regresso do certame em 2022, não podem os vereadores eleitos pelo PS concordar com a redução da feira de 16 para 10 dias, regressando a um erro do passado e, em claro desrespeito pelas tradições, desde logo, ao deixar fora do calendário o dia 25 de Julho (dia de Sant`Iago).
Sem conhecer o modelo, nem a estratégia que orienta o principal evento promovido pelo município e face a uma inexplicável proposta de redução da duração dos dias do certame, os vereadores socialistas votaram contra o Edital, por considerarem que o mesmo reflecte um erro estratégico.
Foi, pois, com surpresa e alguma consternação, que constamos o regresso ao modelo de 2014. Infeliz experiência que durou 3 anos e que teve o seu pior cenário no certame de 2016.
Porque relembrar é avivar a memória, nada melhor que citar a anterior presidente no âmbito da discussão da proposta de Edital para a Feira de 2017 “… os dez dias foram uma experiência. Quisemos ver quais os ganhos com menos seis dias de certame e verificámos que os ganhos não são muito grandes, não são significativos.
Tivemos muitos feirantes que não vieram, porque o último fim-de-semana já estava cortado e como eles estão organizados por circuitos, esta feira cortava-lhes praticamente uma semana, e obrigava-os a voltar a casa para depois irem para outros sítios. Tudo isto economicamente era muito mau…”.
Reduzir a duração do certame é voltar a dar um passo atrás e voltar a uma estratégia que quase acabou com a Feira. Uma má experiência que agora se repete e que na altura reflectiu menos inscrições para a área gastronómica, para o artesanato e para a área institucional e em que vários lugares de diversões para adultos e crianças ficaram vazios.
Tendo por base o calendário anual de feiras e os necessários e inevitáveis ajustes de calendário para facilitar a rotatividade de feirantes por regiões, reduzir a duração do certame com o calendário proposto consubstancia um erro estratégico e de visão.
A visão que temos para uma das maiores feiras do país, ou que já o foi nos anos 80 e 90, que, obviamente, não se resume em reafirmar a importância na deslocalização do certame, é colossal se comparada com o desnorte de uma gestão comunista sem ideias novas e em fim de ciclo.
A Feira de Sant´Iago pode e deve ser um espaço dedicado a mostrar aos visitantes o melhor que o nosso território tem para oferecer, desde o mundo empresarial, ao associativo, passando pela gastronomia, pelos vinhos, as artes, a cultura ou o desporto. A Feira deve ser uma centralidade de oportunidades.
A Feira pode e deve incutir uma vertente empresarial, vocacionada para as oportunidades de negócio, um ponto de encontro de interesses, mas também pode e deve ser um espaço dedicado à diversão, ao lazer, à aventura, às múltiplas experiências.
A Feira pode e deve ser um espaço único e singular, reconhecido e falado pelas nossas “gentes”, como motivo de orgulho, como outrora o foi, mas também um evento que contribua para alavancar o turismo como outros certames do género o fazem noutras regiões do país.
Saudamos, pois, o regresso da Feira de Sant’Iago em 2022, mas não nos conformamos com o regresso ao passado de má memória. Feira de Sant`Iago sim, mas em respeito pelas tradições e com uma nova visão.