Na última semana ouvimos algumas vozes muito incomodadas com a realização da sessão solene do 25 de Abril na AR. Certamente que muitas dessas pessoas terão embarcado num discurso populista que se tem esforçado por fazer um caminho que todos os democratas têm a responsabilidade de contrariar. Mas os protagonistas dessa conversa de embalar, não são inocentes e os seus propósitos são muito claros. Afinal a preocupação não era a questão sanitária, nem tão pouco a evocação dessa data, a questão era e é a própria revolução de 74, com a qual, 46 anos depois continuam a conviver com muito desconforto. Como se fosse um espinho na garganta, e na esperança de um dia fazer um ajuste histórico.
Vejamos, a AR tem reunido regularmente e reuniu inclusivamente para discutir o Estado de Emergência, sem que ninguém viesse colocar quaisquer problemas sobre a oportunidade dessas sessões. Mas o mais interessante é constatar que até promoveram uma petição para que a AR não reunisse no dia da liberdade para evocar o 25 de Abril. Ora, para a petição ter sentido útil deveria ser discutida antes dessa data, ou seja, os autores da petição propunham então que a AR reunisse para discutir a petição, e aqui já não haveria quaisquer problemas do ponto de vista sanitário, o que interessava era não haver evocação do 25 de Abril. Está tudo dito.
Como não podia deixar de ser, e respeitando escrupulosamente todas as regras de saúde pública, a AR evocou essa data histórica que tanto nos trouxe.
E trouxe muito.
Desde logo o Serviço Nacional de Saúde, que representou um enorme passo em termos de civilização, mas também uma porta que se abriu para os portugueses no acesso aos cuidados de saúde.
Com o SNS conseguimos melhorar os indicadores de saúde em Portugal, melhorar a saúde e a qualidade de vida dos portugueses.
E aí o temos a servir de escudo a esta pandemia, a assumir um papel decisivo e insubstituível neste combate.
Faremos uma ideia de como seria lidar com o novo coronavírus, se não tivéssemos o nosso SNS?
É por isso que nunca é demais sublinhar a importância do SNS e alertar para a necessidade do seu reforço e para a valorização dos seus profissionais.
Enquanto ecologistas, o que esperamos é que “depois do Adeus”, isto é, depois de se achatar a curva desta pandemia, que nos viremos para outros achatamentos e para outras curvas.
Porque é preciso achatar a curva das desigualdades, sobretudo a pensar nos milhares de trabalhadores que ficaram sem trabalho e os que viram os seus rendimentos reduzidos com esta crise.
É necessário achatar a curva da distribuição da riqueza produzida, dos salários, da injustiça fiscal e da imoralidade dos paraísos fiscais.
É preciso achatar a curva da ausência do interesse público em decisões, como a localização de aeroportos.
Mas é também é necessário achatar a curva dos desequilíbrios ambientais.
É imperioso achatar a curva da crise climática e da perda de biodiversidade ou do uso insustentável dos recursos naturais.
Impõe-se um regresso à razão e uma aproximação aos valores de Abril.
Viva o 25 de Abril.