A Câmara Municipal de Setúbal publicou no seu sítio oficial, com este título, um texto que está a indignar habitantes do bairro CHESETÚBAL-Azeda. Como a administração da CHESETÚBAL esclareceu, na resposta à notícia publicada por O SETUBALENSE de 11 de Maio, a CMS não nos está a fazer nenhum favor – o que despende nos arranjos em curso é parte da troca por cinco lotes (5!) de terreno na Praça de Portugal, onde a autarquia constrói um complexo desportivo. Mais, e como também foi esclarecido, o nosso bairro não tem nada a ver com «habitação pública municipal», e as habitações são propriedade nossa, totalmente pagas com o nosso dinheiro e de escritura lavrada, liquidada e assinada.
Quem plantou ou mandou plantar o dislate, que a oposição parece não ter percebido, lá saberá por que o fez. Eu não sei, mas posso dar-me à liberdade da conjetura.
A CMS, com este texto, enveredou pelo trilho de alguma má imprensa, juntando à notícia torta, enganosa, abusadora, o espalhafato fotográfico.
Os moradores iniciais da CHESETÚBAL-Azeda têm um grande orgulho no seu bairro, um bairro especial, diferente, para mim ainda o melhor de Setúbal. Não admira. Gente de trabalho, muitos jovens e com filhos a criar, sem rendimentos para aquisição de moradia no mercado especulativo, optámos pela cooperativa. Não digo que fossem todos, mas boa parte sentiu-se imbuída do espírito cooperativo. Em sessões coletivas aos sábados, domingos e feriados, ou por iniciativa individual quando calhava, plantámos cada pé de relva e cada árvore e arbusto, cada flor. E assim, com dedicação e carinho, transformámos o bairro no canto mais arranjado e florido de Setúbal – cuidámos da própria calçada circundante, mondando as ervas que a autarquia não mondava, e limpámos, ano a ano, os bueiros de escoamento das águas pluviais que a autarquia não limpava. Fizemos dele a admiração de visitantes e passantes, e o paraíso das nossas crianças, que aqui cresceram e se fizeram homens e mulheres a ver e ouvir cantar os pássaros, e a usufruir de espaço e natureza, de cor e de beleza. E tratámos, pelas nossas mãos, da sua manutenção durante quase quarenta anos (até que nos foi retirada no processo de loteamento para efeitos de escrituras), utilizando máquinas de cortar relva, mangueiras e ferramentas adquiridas com as verbas da cooperativa e compradas pelos cooperantes. A autarquia cedeu-nos árvores e arbustos, no início, e dava-nos a água, através das bocas de incêndio. A rega automática, conseguimo-la por contrapartida à cedência de espaços para painéis publicitários.
Desde que a manutenção mudou de mãos, vemos a porcaria de cães que não são do bairro a amontoar-se nos relvados exteriores, árvores e arbustos maltratados por podas radicais e extemporâneas, aloendros que não dão flor devido a cortes estapafúrdicos, bicos de rega partidos por descuido dos jardineiros, canteiros a secar. Além disso, há automáticos do sistema de rega avariados, muretes a cair e lajes partidas (por funcionários autárquicos em trabalhos de desentupimento de esgotos) ou soltas, há séculos – os buracos no passeio, feitos pelos mesmos funcionários, a poente, foram agora reparados. Ficaria bem à Câmara e também à Junta de Freguesia de São Sebastião mandarem cá o fotógrafo e publicarem, nos respetivos sítios oficiais, as fotos destes insucessos – por uma questão de coerência.
As pinturas e reparações efetuadas nos prédios do bairro ao longo das quatro décadas, foram-no a expensas da cooperativa, com os fundos resultantes das contribuições dos moradores/cooperantes. Aqui, nunca a autarquia meteu prego nem estopa, ou gastou vintém dos contribuintes para reparar estragos resultantes de desleixos e vandalismos. Que os munícipes setubalenses fiquem cientes disso.
Resulta que a notícia torta ofendeu-nos. Ofendeu-me particularmente. A Câmara Municipal de Setúbal, se ainda não o fez, deve-nos o pedido de desculpas. Público. Como o deve a O SETUBALENSE, induzido em erro pela lamentável nota de imprensa.
Juvenal José Cordeiro Danado
(sócio nº 278 da CHESETÚBAL e morador no bairro CHESETÚBAL-Azeda)