“É preciso mudar este mundo e depois mudar este mundo mudado”, dizia um filósofo celebre querendo dizer que a vida social era (e é!) um processo em evolução permanente, em que nada é estático. E isto é válido para a sociedade em que temos vivido e que nos trouxe à atual situações em que vivemos.
E se pensarmos bem, logo após a revolução industrial e o início do vertiginoso progresso das ciências e da tecnologia, as nossas sociedades enveredaram por caminhos errados. É evidente que a comodidade e o bem-estar, tal como a satisfação e o prazer, foram recebidos alegremente pelas generalidade das pessoas e, lentamente, foram aparecendo várias classes sociais de harmonia com o ter mais coisas e mais poder.
Progressivamente, o trabalho foi sendo secundarizado em favor do capital. Progressivamente os detentores de mais poder foram querendo “mandar” nos com menos posses, levando lentamente e insidiosamente a que alguns fossem sendo espoliados, não só de bens, mas igualmente da sua dignidade de cidadãos.
Esta evolução foi criando pessoas, sociedades e países com grande poder e domínio sobre outros, a quem iam tirando os bens das regiões habitadas pelos mais pobres.
Certos pensadores mais sagazes foram dando conta da marcha enviesada da nossa sociedade, mas o processo tortuoso desta evolução não parava e – pelo contrário – ia-se sempre agravando. Em maio de 1968 os estudantes da universidade de Paris deram ouvidos a estes pensadores e fizeram barricadas nas ruas, durante dias, numa verdadeira revolução, com a curiosidade de a sua atitude não ter qualquer eco no operariado.
As pessoas não entendiam as razões daquela revolta e – em boa verdade – nem eles sabiam o que queriam, apenas sentiam que a sociedade não caminhava na correta direção. Ao fim de alguns dias o Presidente da República entra em Paris com as suas tropas e põe fim à revolta. É curioso que dois ou três dias depois o povo de Paris veio para as ruas festejando ruidosamente aquele regresso à “normalidade”.
A maioria do povo vivia satisfeito sem se aperceber de que se ia por caminho errado. E, entretanto, a ganância do poder e do ter, foi levando a duas guerras na Europa, a fenómenos como os campos de concentração, uma corrida ao armamento (cada vez mais poderoso e destruidor), a uma verdadeira “luta de galos” entre os mais ricos e poderosos, ou seja, entre a América do Norte, a Rússia e a China. A Europa tentou unir-se e encostou-se aos Estados Unidos da América.
Reuniões e mais reuniões, tratados e até tribunais internacionais, mas é bem evidente que ninguém cede aos seus interesses, fecham as fronteiras a quem foge de zonas de pobreza, de terras exploradas até à exaustão e aí estamos com guerras muito feias e mortíferas às portas da Europa e no Oriente, para alem de muitos outros focos espalhados pelo mundo – e estamos mesmo à beira duma grande guerra mundial e de verdadeiros extermínios de populações indefesas.
Quem comanda os mais poderosos nada faz, para alem de reuniões e mais reuniões, de palavras ocas e sem consequências práticas para corrigir o tal “caminho errado” que trilhamos há décadas. Tal como em Maio de 68, temos os explorados da base da pirâmide social a manifestarem-se. Temos os agricultores levando os seus tractores até Paris e Bruxelas, temos, aqui entre nós, protestos de quase todas as classes: os professores, os médicos e enfermeiros, o pessoal da justiça e até os policias.
A juventude há muito que protesta essencialmente contra os desvarios das agressões à mãe natureza, que – essa sim – grita com tufões, inundações, degelos e temperaturas anormais.
Teremos ou não de “mudar este mundo e depois mudar este mundo mudado”?
Estamos em aguerrida campanha eleitoral – será que os nossos políticos se apercebem desta necessidade de mudar o sistema ou apenas continuam nesta caminhada para a inabitabilidade do planeta e apenas na defesa dos seus interesses?
E o “bem comum”? E a dignidade da pessoa humana, continua esquecida? A resposta aos protestos é normalmente aumentar os vencimentos. Mas muitos dos que protestam vão pedindo mais dignidade e isso não é compreendido pelos “mandantes”.
Serei apenas um “velho do Restelo”, como diz Camões?