Foi com pompa e circunstância que decorreu a apresentação da nova viatura elétrica que será produzida na Autoeuropa. Tal iniciativa contou com a presença do Presidente da República e do Governo, e onde não faltou o anúncio de mais um apoio do Governo à Autoeuropa no valor de 30 milhões de euros. Nem uma palavra para os trabalhadores, que são quem produz e cria a riqueza.
A produção do carro elétrico na Autoeuropa é uma boa notícia. Mas há um conjunto de preocupações no plano da produção nacional, do desenvolvimento do setor automóvel e da valorização dos trabalhadores que ficaram à margem.
Sobre a necessidade de maior incorporação de produção nacional, com mais componentes e peças produzidas em Portugal, que passos foram dados? Ou que opções políticas pretendem adotar nesse sentido? Não se conhece nenhum compromisso.
Mas mesmo assim, o Governo decidiu atribuir um novo apoio à Autoeuropa, que se soma aos 36 milhões em 2014, aos milhões da Segurança Social no âmbito do recurso abusivo ao lay-off em 2024, ou ainda as isenções e benefícios fiscais que estão por contabilizar. Apoios chorudos para os grupos económicos, enquanto para as micro, pequenas e médias empresas são só dificuldades.
Nessa iniciativa não faltaram rasgados elogios à empresa. E os trabalhadores?
Importa ter presente que os trabalhadores da Autoeuropa têm um salário inferior aos dos trabalhadores de outras unidades fabris do Grupo Volkswagen, e que estão sujeitos a elevados ritmos de trabalho na Autoeuropa, cujas consequências são visíveis nos cerca de 700 trabalhadores com doenças profissionais.
Atualmente a Autoeuropa produz mais viaturas por ano, com menos trabalhadores. Isto por si só revela a intensidade dos ritmos de trabalho e o aumento da exploração dos trabalhadores. Em 2018, a Autoeuropa tinha 5.800 trabalhadores e produziu 223.200 viaturas, isto é 38,46 viaturas por trabalhador. Em 2024, mesmo com o lay-off, a Autoeuropa produziu 236.100 viaturas, o segundo melhor ano, com cerca de menos mil trabalhadores. Significa isto, que em 2024 cada trabalhador produziu 48,76 viaturas.
Não há desenvolvimento e progresso com exploração e precariedade. Só há desenvolvimento e progresso com a valorização dos trabalhadores, nas suas profissões e carreiras, nos seus salários, na melhoria das suas condições de trabalho. Assim como o desenvolvimento e progresso implica uma política séria de promoção da produção nacional, que rompa com a dependência externa. Produzir cá para reduzir importações e criar emprego e riqueza.