E o paradigma mudou

E o paradigma mudou

E o paradigma mudou

, Doutor em Ciências da Educação
30 Maio 2025, Sexta-feira
Doutor em Ciências da Educação

As últimas legislativas transformaram, profundamente, os equilíbrios políticos em Portugal e não terá sido por acaso que a AD, herdeira do velho PPD, se aguentou bem melhor do que o PS face ao tsunami do Chega, não apenas por ser governo, mas porque sempre capitalizou melhor grupos sociais menos preocupados com a ideologia e mais com resultados.

Mas não nos iludamos, a vitória da AD é apenas uma meia vitória porque falhou o que muitos tinham na cabeça, a possibilidade de uma maioria com a IL. Verdadeiramente vencedores há apenas dois, o Chega e o JPP; o primeiro, porque aumenta não apenas, substancialmente, o seu número de votantes e deputados, mas porque alcança agora o estatuto de partido de poder, o segundo, porque consegue dar expressão nacional a uma iniciativa genuinamente popular, nascida de um pequeno município da Madeira e que ao projetar-se para a Assembleia da República alcança um estatuto que lhe facilitará a conquista do Governo Regional num arquipélago onde o PSD está desgastado e o PS nunca teve soluções credíveis.

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No concelho de Setúbal, o Chega obteve 27%, o PS 24%, AD 22,5% e a CDU 5,6%; todos os outros somados não foram além dos 18% e a abstenção alcançou os 35%. É daqui que é necessário partir para as autárquicas, embora todos saibamos que não podem fazer-se transposições simplificadas.

Neste quadro, e sendo impossível de prever a capacidade de mobilização autárquica do Chega, já que se trata de eleições muito mais personalizadas, não é excessivo dizer que fica tudo mais baralhado, sendo ainda de contar com a candidatura independente de Dores Meira.

As estratégias autárquicas de cada candidatura não podem deixar de ter em conta estes resultados e procurar tirar as ilações mais de acordo com os respetivos objetivos, mas há fatores personalistas que são quase imprevisíveis. Consegue Dores Meira reconectar-se com os seus anteriores votantes? Atrevo-me a pensar que nem um voto da CDU vai para a sua candidatura e será muito duvidoso que consiga ir buscar de novo os seus eleitores fiéis, que pertencem a outras geografias partidárias, para obter um resultado confortável.

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O Chega é uma incógnita, uma coisa é votar André Ventura, outra votar num candidato autárquico, mas que vai conseguir um bom resultado parece o mais admissível tendo em atenção o contexto. A CDU e o recandidato André Martins têm pela frente uma tarefa hercúlea, segurar uma câmara no meio de uma tempestade eleitoral que arrasou a coligação. O PSD também não tem tarefa fácil, mas as suas ambições serão comedidas, Setúbal sempre lhe tem sido um terreno difícil e agora não há esperança que seja muito diferente. Finalmente, o PS tem vindo a fazer um esforço continuado e está em campanha há anos, Fernando José é uma aposta renovada, e os eleitos do PS têm mantido uma oposição sem quartel à maioria CDU, seja na câmara, seja na Assembleia Municipal. Capitalizarão nas urnas esta postura? As suas propostas estarão a chegar aos eleitores com ecos positivos ou a estratégia que têm seguido é menos benquista do que pensam? E o efeito da derrota eleitoral, da discussão interna, da eleição do novo Secretário-Geral, da inevitável turbulência interna quando se começarem a inverter, como já está a acontecer, as orientações estratégicas que vinham a ser seguidas? Não vai ser fácil.

O que parece mais provável é que nenhuma força política venha a ter maioria para governar e seja necessário fazer acordos para assegurar estabilidade e isto é um dado que quem se propuser assumir o governo autárquico tem de ter em conta na campanha. Excluindo à partida quaisquer acordos antecipados, não é despiciendo que as várias forças políticas apresentem aos eleitores sinais do que farão para viabilizar uma solução estável para a gestão autárquica.

Em eleições onde a credibilidade dos candidatos é o seu ativo mais importante, não vale a pena acentuar posições ideológicas ortodoxas, porque quem ficará à frente será quem melhor conseguir que os eleitores acreditem que vai fazer mais e melhor pelo concelho, seja lá o que isso for para cada um.E o paradigma mudou

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