Um governo de familiares é um escândalo aceite com normalidade. Pelo menos durante três anos
O Presidente da República fez saber ontem que quer uma lei contra a nomeação de familiares na Presidência da República. A pressa é tanta que não apenas avança já, como até redigiu o ante-projecto de diploma para entregar ao Governo.
Repare-se que a lei que Marcelo impõe é para impedir a nomeação de qualquer familiar, não para o governo, ou outro órgão ou organismo do Estado, mas para a Presidência da República. E familiares dele próprio.
Não é ridículo? É, e com tal estrondo que não chega a ser populismo. É só mais uma ao estilo inqualificável de Marcelo.
É ridículo porque para impor uma lei, o Presidente da República precisava apenas de falar, de fazer saber, como mais alto magistrado da nação, que defende essa medida. Era dispensável esta indirecta jurídico-política ao Governo, de fazer uma lei para a Presidência da República, que controla pessoalmente, e onde, supostamente a sua ética dispensa acção legislativa.
Claro que esta medida é para atirar ao Governo.
É mais ridícula ainda por ser extemporânea.
Praticamente desde a sua formação que é evidente que este Governo é uma oligarquia. Não é por acaso que os membros com mais familiares no Governo são precisamente os dois ministros mais poderosos de António Costa.
Marcelo Rebelo de Sousa sabe disto desde o início e nunca disse nada, contribuindo para o silêncio ensurdecedor sobre a matéria, como se um governo de familiares fosse a coisa mais natural do mundo.