A pouco mais de um mês de dar entrada, na Assembleia da República, da proposta de orçamento de Estado para 2021 faz bem António Costa em clarificar o que pensa e qual a sua posição, à vista de toda a gente. Os partidos da esquerda foram instados a viabilizarem as contas previstas para o próximo ano, não sem que, obviamente, tenham envolvimento na construção da proposta de lei do documento provisional. Do mesmo modo foi claro, e assertivo, o apontamento feito ao PSD a quem o Primeiro Ministro aponta uma “deriva estranha (…) para áreas da direita populista”, o que elimina a possibilidade de um acordo estrutural, que, verdade seja dita, nunca foi desejado.
Para sermos claros, é na esquerda que o Governo quer encontrar a necessária e desejável convergência o que, independentemente de análises , opiniões , posições, mais ou menos elaboradas, faz sentido tendo em conta a experiência do passado recente.
Mas, o PCP e o BE não podem continuar com atitudes calculistas, num permanente ‘pára, arranca’ que os vem caracterizando desde o início da presente Legislatura.
É sabido que franziram o nariz ao modelo vivido nos anteriores quatro anos. É sabido que o Partido Socialista não obteve maioria absoluta. É sabido que que os sucessos financeiros, económicos e sociais alcançados estão a ser gradualmente abocanhados pelos efeitos da crise Covid-19. Logo é mais que sabido que o país exige entendimentos. Para preocupação e incerteza já basta o inimigo invisível à solta pelo mundo.
Até porque por cada abordagem pontual realizada pelo PS com o PSD, em aspetos absolutamente essenciais e que só encontram sustentação deste modo face à rigidez de posicionamentos políticos, quantas vezes arrogantes, da esquerda, lá vêm os mesmos de sempre apontar o dedo com a conversa estafada de “políticas de direita”. Mas, chegarem-se à frente para resolver é que nem pensar. E já agora é também bom que se perceba que os recursos são mesmo finitos e exatamente por isso dialogar é mais do que apresentar listas intermináveis de exigências. O que se quer é encontrar as melhores respostas para os portugueses de modo realista e não fazer coleção de capital de queixa para consumo partidário.
Bom, o povo português, depois da experiência da anterior legislatura, decidiu que a governação seria do PS com maioria relativa e que os restantes ‘parceiros’ deviam estar lá… Como diz Costa, e bem, se não estiverem que se tirem as consequências políticas. Dialogar é uma coisa, acharem que ‘nos têm nas mãos’, é coisa diferente. Portanto, é melhor serem rápidos a clarificar. Até porque o povo há de querer saber as ‘linhas com que se cose’.