De volta à natureza: se não agora, então quando?

De volta à natureza: se não agora, então quando?

De volta à natureza: se não agora, então quando?

15 Junho 2020, Segunda-feira
Maria Antónia de Almeida Santos

Esta emergência de saúde pública confrontou-nos com crueza com problemas que conhecíamos e que exigem novas medidas estruturais no pós-crise. Quando se fala em voltar à natureza, dito assim, de forma vaga, é possível uma certa sensação de “chavão”. Que volta é essa? Estamos tão habituados em termos civilizacionais ao egoísmo na nossa relação com o ambiente, que à partida esta viagem ou nos soa logo a coisa turística ou a missão impossível. Por exemplo, durante o confinamento, apercebemo-nos de forma clara que o planeta respirou e passou melhor sem nós. Desfizemo-nos em elogios, epifanias e promessas de mudança de vida. No entanto, assim que recebemos carta de alforria, voltámos num piscar de olhos a praticar a descartabilidade ambientalmente tóxica, habitual nos nossos estilos de vida. O melhor símbolo (ou o pior) desta situação são as máscaras profiláticas que flutuam já nos oceanos, envenenando a vida e as marés.

A humanidade tem de deixar de ser predadora do ambiente para passar a sua guardiã. E reconhecer que a vida no planeta obedece a uma cadeia ambiental. Da saúde dela depende a nossa e, cada vez mais, a nossa qualidade de vida futura e até a nossa sobrevivência. Nunca, como agora, teremos tido uma perceção tão concreta e imediata de quanto liberdade e responsabilidade estão intimamente ligadas.

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Se temos de voltar à natureza, então como? Pelo reconhecimento da necessidade de ir além da pedagogia e didática ambientais. O ativismo e as campanhas de sensibilização e consciencialização têm já décadas. Foram o despontar da consciência verde e da revolução ecológica. Agora, temos de passar à urgência da ação politicamente efetiva, concertada e coordenada. A União Europeia deu um passo de gigante com a adoção da nova Estratégia de Biodiversidade e da Estratégia do Prado ao Prato. Quer-se travar a perda de biodiversidade na Europa e passar do “somos o que comemos” para o ”somos também o modo como produzimos o que comemos”. A novidade é a conciliação com os de estilos de vida, políticas económicas ou meios de subsistência quando se fala em sustentabilidade. Aposta-se na redução do desperdício alimentar, na pesquisa, na partilha de conhecimento e no reconhecimento da importância do trabalhador agro-alimentar. O objetivo é a segurança alimentar pelo combate à fraude alimentar e pela promoção da transição para uma dieta saudável porque é ambientalmente sustentável. “Saudável” e “sustentável” não são um binómio. São complementares e a pegada ambiental começa mesmo no prato.

Voltar à natureza é também reequacionar as cidades. O novo mundo pós-pandemia terá de entender a cidade sobrepovoada como rastilho para a contaminação e tirar conclusões.

Da última vez que escrevi aqui, falei da conjugação única da Península de Setúbal, a nível da fauna, da flora, da serra e do mar, como uma bênção. Mas é algo mais. É uma responsabilidade nossa e um atestado de dever.

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