13 Agosto 2024, TerƧa-feira

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Crime e castigo

Crime e castigo

Crime e castigo

27 Fevereiro 2019, Quarta-feira
PJ VULTER - Escritor do Montijo. Publicou Ā«MartaĀ»
PJ VULTER – Escritor do Montijo. Publicou Ā«MartaĀ»,pela Coolbooks, em 2017. E publica regularmente no seu blog https://pjvulter.wixsite.com/pjvulter/blog.

A necessidade de atribuir culpas continua a ser um dos grandes fastios da nossa sociedade.

Ā 

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Parece queĀ ao encontrarmos um culpadoĀ fica sanado o problema; mas nĆ£o fica. O problema mantĆ©m-se e nĆ£o se resolve por si sĆ³ porque alguĆ©m foi responsabilizado. ƀs vezes atĆ© Ć© ao contrĆ”rio; a atribuiĆ§Ć£o de uma responsabilidade faz com que o responsĆ”vel, por sua vez, aponte o dedo a alguĆ©mā€¦ E aĆ­ comeƧamos a correr o rosĆ”rio dos culpados. No final, a culpa morrerĆ” solteira, porque, no meio de tanta gente culpada, nĆ£o hĆ” como responsabilizar, e o problema continuarĆ” por resolver. Mas no meio disto tudo, ofuscados por este festival de culpas, ninguĆ©m mais se lembrarĆ” do problema; atĆ© que ele surja de novo.

 

Ocorreu-me que talvez seja aquelaĀ a principal razĆ£o porque se Ć© rĆ”pido a apontar o dedo; principalmente quando o problema Ć© grave. Todos preferem desviar a atenĆ§Ć£o do problema ā€“ por razƵes diversas ā€“ a resolvĆŖ-lo. E, enquanto todos nĆ³s formos coniventes com isto, nunca isto vai mudar. As culpas sĆ£o atribuĆ­das ā€“ sem consequĆŖncias, entenda-se ā€“ e os problemas nunca sĆ£o resolvidos.

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Estou certo de que alguns de vĆ³s se lembrarĆ£o de alguns casosā€¦

 

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Todavia, tambĆ©m na esfera pessoal ā€“ especialmente no Ć¢mbito do trabalho ā€“ isto acontece. A primeira coisa que se faz, quando se identifica um problema ou uma falha, Ć© perguntar:

 

Ā«Quem foi?Ā»

 

Mas o que interessa isso?!

 

O que interessa Ć© resolver a situaĆ§Ć£o.

 

Uma entidade patronal ā€“ seja, ela, de que Ć”rea for ā€“ paga-nos para resolver problemas, nĆ£o para achar culpados. Ouvi vĆ”rias vezes, dos meus chefes e atĆ© de entidades formadoras, que nĆ£o devemos levar problemas para as salas de reuniƵes; devemos levar soluƧƵes. Mas nunca ouvi – de absolutamente ninguĆ©m –Ā tragam-me os culpados.

 

Esta mentalidade de caƧa Ć s bruxas, em pleno sĆ©culo XXI, jĆ” deveria ter sido ultrapassada. Cada vez mais, os valores associados Ć  noĆ§Ć£o de comunidade e partilha falam mais alto; e, neste contexto, nĆ£o hĆ” espaƧo para a culpa.

 

NĆ£o estou, contudo, a dizer que as pessoas nĆ£o devem ser responsabilizadas pelos seus actos. Devem sĆŖ-lo. Mas devem sĆŖ-lo como parte de um processo e nĆ£o como o fim desse processo.

 

Actualmente aponta-se o dedo, estigmatiza-se uma pessoa e pronto; estĆ” tudo feito. E essa pessoa apenas tem duas soluƧƵes: ou assume a culpe e vive sob o seu peso, ou resolve empontar a culpa para outros. Seja qual for a sua atitude, o problema nĆ£o se resolve e vai-se protelando a sua soluĆ§Ć£o. E, quando o problema ressurgir, outro culpado serĆ” apontadoā€¦

O facilitismo da culpa Ć© que hĆ” sempre um culpado; pode sĆŖ-lo muito ou pouco, mas hĆ” sempre alguĆ©m responsĆ”vel para culpar. E por ser fĆ”cil apontar o dedo, parece ser sempre melhor fazĆŖ-lo do que encontrar ā€“ ou tentar encontrar ā€“ soluƧƵes.

 

Sempre que hĆ” um erro, hĆ” uma pessoa responsĆ”vel por esse erro ā€“ Ć© verdade; mas deve ser nossa obrigaĆ§Ć£o ā€“ como seres humanos ā€“ ajudar essa pessoa a corrigir esse erro ā€“ se possĆ­vel ā€“Ā ou ajudĆ”-laĀ corrigir os comportamentos e atitudes que a levaram a errar. Desta forma, tanto o problema como a origem do problema se resolveā€¦

 

De outra maneira, nunca nĆ£o passaremos do que temos sido: uma sociedade geradora de problemas e, por consequĆŖncia, de culpadosā€¦

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