Crime e castigo

Crime e castigo

Crime e castigo

27 Fevereiro 2019, Quarta-feira
PJ VULTER - Escritor do Montijo. Publicou «Marta»
PJ VULTER – Escritor do Montijo. Publicou «Marta»,pela Coolbooks, em 2017. E publica regularmente no seu blog https://pjvulter.wixsite.com/pjvulter/blog.

A necessidade de atribuir culpas continua a ser um dos grandes fastios da nossa sociedade.

 

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Parece que ao encontrarmos um culpado fica sanado o problema; mas não fica. O problema mantém-se e não se resolve por si só porque alguém foi responsabilizado. Às vezes até é ao contrário; a atribuição de uma responsabilidade faz com que o responsável, por sua vez, aponte o dedo a alguém… E aí começamos a correr o rosário dos culpados. No final, a culpa morrerá solteira, porque, no meio de tanta gente culpada, não há como responsabilizar, e o problema continuará por resolver. Mas no meio disto tudo, ofuscados por este festival de culpas, ninguém mais se lembrará do problema; até que ele surja de novo.

 

Ocorreu-me que talvez seja aquela a principal razão porque se é rápido a apontar o dedo; principalmente quando o problema é grave. Todos preferem desviar a atenção do problema – por razões diversas – a resolvê-lo. E, enquanto todos nós formos coniventes com isto, nunca isto vai mudar. As culpas são atribuídas – sem consequências, entenda-se – e os problemas nunca são resolvidos.

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Estou certo de que alguns de vós se lembrarão de alguns casos…

 

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Todavia, também na esfera pessoal – especialmente no âmbito do trabalho – isto acontece. A primeira coisa que se faz, quando se identifica um problema ou uma falha, é perguntar:

 

«Quem foi?»

 

Mas o que interessa isso?!

 

O que interessa é resolver a situação.

 

Uma entidade patronal – seja, ela, de que área for – paga-nos para resolver problemas, não para achar culpados. Ouvi várias vezes, dos meus chefes e até de entidades formadoras, que não devemos levar problemas para as salas de reuniões; devemos levar soluções. Mas nunca ouvi – de absolutamente ninguém – tragam-me os culpados.

 

Esta mentalidade de caça às bruxas, em pleno século XXI, já deveria ter sido ultrapassada. Cada vez mais, os valores associados à noção de comunidade e partilha falam mais alto; e, neste contexto, não há espaço para a culpa.

 

Não estou, contudo, a dizer que as pessoas não devem ser responsabilizadas pelos seus actos. Devem sê-lo. Mas devem sê-lo como parte de um processo e não como o fim desse processo.

 

Actualmente aponta-se o dedo, estigmatiza-se uma pessoa e pronto; está tudo feito. E essa pessoa apenas tem duas soluções: ou assume a culpe e vive sob o seu peso, ou resolve empontar a culpa para outros. Seja qual for a sua atitude, o problema não se resolve e vai-se protelando a sua solução. E, quando o problema ressurgir, outro culpado será apontado…

O facilitismo da culpa é que há sempre um culpado; pode sê-lo muito ou pouco, mas há sempre alguém responsável para culpar. E por ser fácil apontar o dedo, parece ser sempre melhor fazê-lo do que encontrar – ou tentar encontrar – soluções.

 

Sempre que há um erro, há uma pessoa responsável por esse erro – é verdade; mas deve ser nossa obrigação – como seres humanos – ajudar essa pessoa a corrigir esse erro – se possível – ou ajudá-la corrigir os comportamentos e atitudes que a levaram a errar. Desta forma, tanto o problema como a origem do problema se resolve…

 

De outra maneira, nunca não passaremos do que temos sido: uma sociedade geradora de problemas e, por consequência, de culpados…

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