“Esta nossa pequeníssima homenagem à nossa Casaquinha é a alguém que nasceu no VITÓRIA, viveu para o VITÓRIA, cresceu, sorriu e chorou pelo VITÓRIA e morreu com o….VITÓRIA. Infelizmente é mais um dos nossos que num tão curto espaço de tempo nos deixa e com o SEU/NOSSO VITÓRIA neste lugar tão triste da nossa História.”
Miguel Reizinho
Nestes dias sombrios, fui muito tristemente atingido com o falecimento dessa grande vitoriana que era a querida e já saudosa Maria da Conceição Casaca.
Durante anos, foi uma das cicerones da então magnífica sala de troféus “Josué Monteiro”, onde o Vitória ostentava orgulhosamente todas as taças que venceu ao longo da sua centenária história.
Conceição Casaca era, sem qualquer sombra de dúvida, uma das guardiãs da sala de troféus, representando sempre o sentir, a emoção, o carinho e o amor vitorianos, no seu estado mais puro, nobre e desinteressado.
Conceição Casaca respirava Vitória, vivia-o e sentia-o de uma forma orgânica, intensa, profunda. Era sempre a primeira a chegar ao Estádio do Bonfim, mesmo antes das portas abrirem.
Sempre que se falava do Vitória, imediatamente adquiria um brilhozinho naqueles olhos azuis e começava a palpitar histórias, sentimentos, emoções e também alegrias e tristezas. Era uma excelente conversadora.
Tal como em Constantino, Guardador de Vacas e de Sonhos, personagem que Alves Redol imortalizou numa das suas obras de referência, Conceição Casaca era, com a sua enorme alma vitoriana, a guardadora da sala de troféus, conferindo-lhe um toque feminino, indispensável para que o bom gosto imperasse.
Sem o toque feminino, a vida seria a preto e branco e, por vezes, nem isso. Gostaríamos de ter a sala de troféus de volta, no prolongamento da bela sala de imprensa, onde se encontram os troféus mais emblemáticos do Vitória Futebol Clube.
Também ela guardava com desvelo, carinho e muito amor, não só as taças, como todos os sonhos, as emoções, o vitorianismo. Fazendo o Vitória também parte da minha essência, não posso deixar de a ter como referência de uma certa forma de estar e de sentir vitoriano.
Conceição Casaca sucedeu como guardiã das taças, a esse grande vitoriano também infelizmente desaparecido que era Agostinho Alpendre. Conceição Casaca era irmã desse grande jogador e depois treinador que foi Fernando Casaca.
Se lhe perguntassem qual era a sua taça preferida, respondia imediatamente que era a Taça Recompensa, que curiosamente assinala uma derrota contra o Sporting, em que fomos escandalosamente roubados, daquela que teria sido a primeira Taça de Portugal, ocorrida nos anos cinquenta.
Ela vivenciou essa ocorrência em discurso directo. Falava sempre com particular entusiasmo das três taças de Portugal que o Vitória Futebol Clube venceu (1965, 1967 e 2005), em dez presenças em finais.
Emocionava-se também quando recordava a conquistas da Supertaça Ibérica ganha ao Bétis de Sevilha (2005) e a primeira Taça da Liga ganha ao Sporting (2008). Em 1968 Conceição Casaca deslocou-se de propósito a Espanha (Corunha) para assistir à conquista da Taça Teresa Herrera, batendo na final o Atlético de Madrid que tinha ganho a Taça de Espanha, tal como nós, relativamente à Taça de Portugal.
Recordava também a conquista da Mini-Copa do Mundo, na Venezuela, defrontando e vencendo o Santos (Brasil) e o Chelsea (Inglaterra). Em 2014, Conceição Casa deu-me a enorme honra de ter estado presente no lançamento daquele que seria o meu primeiro livro intitulado “Crónicas Vitorianas”, evidenciando, nessa ocasião, o eterno entusiasmo comum a todos nós, vitorianos.
Dizia de forma recorrente que quando se fala do Vitória, temos todos de nos pôr de pé, em sinal de respeito. O seu desaparecimento atinge duramente a família vitoriana, tal como sucedeu com Fernando Pedrosa e Mário Venâncio (Marezas).
Uma grande tristeza. Até Sempre, Conceição Casaca.