Este é o quarto de um conjunto de cinco artigos que sairão neste espaço, com o objectivo de clarificar os termos da próxima disputa eleitoral autárquica.
Numa campanha eleitoral a noção de risco é inseparável das ideias de probalidade e de incerteza. Há a probalidade de um candidato ganhar, mas não há a certeza que o consiga. Há a probalidade de ele perder, mas não é certo que assim seja.
Existe uma velha anedota que exemplifica a ideia de forma simples: Um homem salta do telhado de um arranha-céus de cem andares. Durante a descida, ao passar junto às janelas de cada andar diz para as pessoas que acompanham a queda: “até agora vai tudo bem, “até agora vai tudo bem”. O suicida age como tivesse a calcular o risco, mas, na realidade, o resultado final estava determinado à partida.
Ao contrário, numa eleição o risco e a incerteza são dominantes, porque nada está determinado à partida.
O que determina a vitória ou a derrota é um conjunto de factores já retratados em artigos anteriores, mas, também, o problema da comunicação.
Muitas vezes, os candidatos às eleições autárquicas procuram seguir os conselheiros especializados em marketing, que procuram associar o marketing político com a “venda de um sabonete”. Trata-se, pois, de fabricar um candidato a partir do marketing político.
Todavia, a realidade e a vida são mais complexas que isso. E tal como dizia James Madison: “É tão falível a razão humana como é falível e limitada a nossa capacidade de apreender e compreender essa realidade”.
Numa campanha eleitoral o principal desafio do candidato passa por fazer com que o eleitor compreenda de uma forma simples e transparente as propostas de acção política que a candidatura representa.
É habitual ver os autarcas fazerem extensos discursos, apresentarem ideias de uma forma pouco sintética e clarividente. Esquecem-se que a comunicação entendível passa por escrever de forma simples, para que a mensagem seja lida, quer por um doutorado, quer por um indivíduo com o primeiro ciclo preparatório.
É fácil ver artigos de opinião, programas eleitorais serem escritos com “erros de palmatória”, o que à partida inibe os mais letrados a confiar nos seus autores.
As ideias de campanha devem ser escritas (sem erros de português), escolhendo palavras simples, comuns e reconhecidas por todos. “Quem comunica de forma complicada e difícil, usando um vocabulário difícil, não comunica, mas antes isola, exclui, discrimina” (Tavares, 2016).
Por outro lado, a primeira preocupação de uma candidatura, em termos de comunicação, é definir o quadro competitivo global, abrangendo os adversários mais e menos directos. Nesta definição é fundamental responder a 7 questões essenciais:
1 – Quem são, afinal, os nossos mais sérios concorrentes?
2 – Que ideias e propostas inovadoras oferecem à sociedade?
3 – Que posição ocupa o candidato na sociedade?
4 – Com conseguiu o candidato a referida posição?
5 – Quais os concorrentes mais temíveis?
6 – Como comunicam eles com os munícipes?
7 – Como são vistos por esses cidadãos?
A resposta a estas questões permite ao candidato definir as percepções que pretende combater, reforçar ou criar.
No processo de comunicação o candidato deve ter presente que a promessa eleitoral só será eficaz se o eleitor a achar credível. Ou seja a mensagem deve, por um lado, ser compatível com as necessidades e expectativas do eleitor, por outro lado, deve ser justificada com argumentos convincentes.
O próximo artigo intitula-se: “A difícil arte de conquistar o eleitor”