Na passada quarta-feira, num artigo de opinião aqui n’O Setubalense, o primeiro-ministro, António Costa, brindou-nos com mais um grande momento de propaganda política. E eu, ainda que tenha preparado um artigo diferente, sobre outro tema também importante, sinto-me na obrigação de, neste mesmo espaço, fazer o exercício do contraditório.
Sim, senhor primeiro-ministro, Setúbal é um distrito único, mas não apenas pelos seus quilómetros de praia, parque natural, pela sua dinâmica produção vinícola ou pelo seu porto de águas profundas. O que pergunto é porque é que, apesar de todos estes fatores, e, mais ainda, apesar da presença das maiores empresas exportadoras do país, da sua rede de 89 mil empresas e pelas suas importantes ligações ferroviárias, o distrito de Setúbal não deu o grande salto económico e social que todo este potencial permitiria antever?
Os dados publicados pelo Gabinete de Estratégia e Estudos do Ministério da Economia e do Mar para o distrito de Setúbal demonstram, em 2020, um índice de dependência total da população de 58,6%, que compara com os 55,9% do país; uma taxa bruta de escolarização de 118,9%, que compara com os 122,9% do país; uma taxa quinquenal de mortalidade infantil de 3,5‰, que compara com os 3,0‰ do país; um rácio de 3,4 médicos por 1.000 habitantes, que compara com o rácio de 5,6 do país; que 4,6% da população beneficia do subsídio de desemprego, que compara com os 4,2% do país; que 2,9% da população beneficia do rendimento social de inserção, que compara com os 2,5% do país.
No caso concreto da península de Setúbal, em 2000, o PIB per capita da região correspondia a 68% da média europeia; em 2015, tinha caído para os 55%; e estima-se que, em 2027, poderá representar apenas 47%.
É este o retrato do distrito de Setúbal, que faz da península de Setúbal a quarta região mais pobre do país, não correspondendo, por isso, à propaganda do senhor primeiro-ministro. Um retrato que resulta, e muito, da governação socialista do país nas últimas décadas, mas também da governação municipal, maioritariamente comunista e socialista. Temos, de facto, um distrito com um potencial enorme, mas que sofreu com a concentração do investimento na margem norte do Tejo, para onde foram canalizados recursos financeiros, materiais e humanos, que levaram consigo, também, o investimento privado.
Num estilo de pré-campanha, os anunciados projetos de expansão do Metro Sul do Tejo ou do Arco Ribeirinho Sul para os habitantes da margem sul do Tejo resultam em pouco mais do que um sorriso cínico, porque todos nos lembramos das inúmeras promessas não cumpridas ou projetos anteriores, como o Hospital do Seixal ou a Cidade da Água em Almada. E a realidade mostra-nos as situações desesperantes dos vários hospitais ou o caricato caso da compra dos barcos elétricos sem baterias.
Lamento, senhor primeiro-ministro, mas a sua propaganda não apaga o resultado das políticas socialistas dos seus governos e daqueles de que fez parte nos últimos 30 anos. Apenas a libertação da iniciativa privada da burocracia e da dependência do Estado permitirá o rápido e sustentado desenvolvimento do distrito de Setúbal. Não este tipo de propaganda. E, para a defesa deste modelo mais liberal para o meu distrito, para o nosso distrito, a Iniciativa Liberal diz presente.