Centro Comercial do Bonfim: uma história mal contada

Centro Comercial do Bonfim: uma história mal contada

Centro Comercial do Bonfim: uma história mal contada

, Professor
10 Janeiro 2022, Segunda-feira
Giovanni Licciardello - Professor

O Centro Comercial do Bonfim foi o primeiro centro comercial com essas características em Setúbal e um dos primeiros no país.

Tinha no seu interior a magnífica sala de cinema, o Cinema Bocage, que funcionou até 1990. Faz parte do itinerário comercial e afectivo dos setubalenses.

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Quando aí entro, encontro sempre bastante gente, indicador de uma actividade comercial dinâmica.

Confesso, portanto, que fiquei bastante surpreendido, quando me chegou a notícia que iria encerrar.

Entrei, apresentei-me e procurei indagar quais os motivos desta tentativa de encerramento.

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Os actuais proprietários são os herdeiros de Carraça da Silva, o proprietário que faleceu em 2020.

Quando o Centro foi criado, na década de setenta, era gerido por uma sociedade que pertencia a Carraça da Silva e a Rui Amaro. Este último faleceu na década de oitenta, tendo Carraça da Silva adquirido a parte do sócio aos respectivos herdeiros, dando continuidade à firma do Centro Comercial do Bonfim.

Posteriormente foi criada a firma António Carraça da Silva & Filhos Lda. tendo esta firma constituída pelos proprietários, passado a gerir o Centro.

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Em 2014, foi criada uma nova firma, a ”Céleres Assuntos”, com quem os mesmos estabeleceram um contrato de arrendamento, a partir do qual esta nova firma passou a gerir o do Centro.

Segundo os lojistas, contatou-se a partir de 2016, um progressivo desinvestimento ao nível de manutenção das infra-estruturas, nomeadamente rede de esgotos, casas de banho, etc.

A partir de 2019 foi particularmente notória a recusa em efectuar novos arrendamentos, para além dos já existentes, apesar da intensa procura para novas lojas.

Tal situação prejudicava, por uma questão de sinergia, os lojistas existentes e o próprio Centro Comercial, que poderia evidenciar outro dinamismo.

A dois de Dezembro de 2021 e de forma totalmente inesperada, todos os comerciantes receberam uma carta registada, intimando a entregar as chaves e as lojas totalmente devolutas, até ao dia trinta de Dezembro de 2021.

Gerou-se, naturalmente, um enorme mal-estar e angústia, tendo em conta a normal actividade comercial, bem como todos os compromissos e investimentos entretanto realizados.

A nove de Dezembro, deu entrada no tribunal uma providência cautelar, interposta pelos comerciantes, procurando obstar a tal decisão.

O juiz a quem o processo foi entregue, considerou que deve ouvir as partes envolvidas, proprietários e empresa, antes da decisão da providência cautelar.

Todavia, no dia trinta de Dezembro, quando procuravam entrar no Centro Comercial, os comerciantes constataram com surpresa que o mesmo estava encerrado e com algumas portas bloqueadas.

Apesar disso, entraram, abriram as suas lojas, e começaram a funcionar normalmente.

Ainda durante a manhã, chegou a advogada da empresa Céleres Assuntos, acompanhada da polícia de intervenção, instando-os a sair, uma vez que se encontravam numa situação ilegal. Foi-lhes explicado que não era assim, uma vez que estava a decorrer a referida providência cautelar e só quando houver despacho da mesma se verá quem tem razão.

Considerando este tipo de atitudes por parte da entidade gestora do Centro e com receio que pudessem tentar novamente impedir o acesso dos comerciantes às suas lojas, os comerciantes decidiram cumprir o horário normal do Centro Comercial e para além disso, mantêm-se em permanência nas instalações do Centro, em vigília nocturna, no sentido de evitar o respectivo bloqueio e encerramento.

O Centro Comercial do Bonfim é composto por mais de 50 espaços – embora algumas lojas estejam livres – e continua a ser bastante movimentado. É, de resto, uma das poucas superfícies comerciais do seu tempo que conseguiu perdurar até aos dias de hoje.

Os comerciantes questionam sobretudo a forma pouco digna, velada e apressada com que este assunto foi tratado, sem qualquer respeito pela respectiva actividade comercial, pelos funcionários e pelas leis em geral.

Também sou dessa opinião e parece-me bem que toda esta história possui contornos rocambolescos e está muito mal contada.

A pressa configura negociata à vista, mas não pode ser desta maneira. Deve haver um acordo e, em caso de saída, todos os comerciantes devem ser oportunamente ressarcidos.

Como sintetizou um dos comerciantes “Não nos podem mandar embora desta maneira indigna; temos obrigações legais para com outras empresas que nos apoiam para desenvolver a nossa actividade comercial, temos obrigações para com os nossos empregados, temos obrigações fiscais, enfim uma série de situações, com as quais, entraríamos em incumprimento se fizéssemos o que nos tentaram impor.”

Chamo a atenção da Câmara Municipal de Setúbal para os cinco magníficos painéis de azulejos, da autoria de Louro de Almeida e Rogério Chora, existentes no exterior, não vá alguém lembrar-se de destruí-los, com o pretexto de uma remodelação qualquer.

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