Caro André Martins
Em primeiro lugar, começo por felicitá-lo pela vitória que obteve nas últimas eleições autárquicas, extensível a todos os eleitos pelo Concelho de Setúbal.
Mesmo tendo votado noutra candidatura autárquica, é com o maior desportivismo democrático que lhe dou os parabéns.
Em Democracia ganha quem recebe mais votos e é assim que deve sempre ser.
Muitas vezes, só se compreende verdadeiramente o valor da Democracia e da Liberdade, quando estas não existem.
Quem nunca viveu em sociedades democráticas e livres, tem uma percepção necessariamente diferente do que são, na realidade; quem as perdeu nunca as esquece e quem as conquista deve tudo fazer para defendê-las, preservá-las e acarinhá-las.
E assim é, de facto. No século XX, tivemos que nos confrontar com dois regimes totalitários, o fascismo (e o nazismo) e o comunismo, com o enorme rasto de sangue que deixaram atrás de si.
Com o século XXI, novas ameaças pairam: uma nova Guerra Fria, os governos populistas, os extremos políticos, as intolerâncias religiosas, políticas e étnicas, o terrorrismo, a subalternização e menorização das mulheres, infelizmente ainda presente em muitas zonas do globo.
O André Martins tem nas suas mãos uma pesada herança; o legado de Maria das Dores Meira, indiscutivelmente a melhor presidente da Câmara Municipal de Setúbal, no pós-25 de Abril.
Após os mandatos de Mata Cáceres, que deixaram poucas saudades, cujo legado poderá eventualmente estar a condicionar eleitoralmente as sucessivas candidaturas autárquicas socialistas de Catarino Costa, Teresa Almeida, João Ribeiro, Fernando Paulino e Fernando José e dos mandatos inconclusivos de Carlos Sousa, que culminaram no seu afastamento compulsivo, surgiu a sua antecessora que lançou definitivamente Setúbal para a frente, sacudindo-a de um torpor e de um estigma a que já estávamos habituados, mas não resignados.
Nos anos 80, quando frequentava a Universidade e dizia que era de Setúbal, era logo olhado com desconfiança. Falava-se de Setúbal sempre pelos piores motivos: a crise, a insegurança, a criminalidade, tudo muito amplificado pela Comunicação Social da ocasião, de forma malévola, intencional e sistemática.
Actualmente, Setúbal é encarada de outra maneira, para bem melhor, existindo outro dinamismo que não ocorria no passado. Somos visitados por um número cada vez maior de turistas, o que é um óptimo indicador.
As eleições autárquicas são eleições de proximidade, nas quais as aspirações dos munícipes centram-se em melhores condições de vida no lugar onde vivem, onde circulam e muitas vezes trabalham, nomeadamente água, saneamento, resíduos, iluminação pública, limpeza e manutenção dos espaços, cultura, desporto, eficácia administrativa, visão estratégica.
O progressivo aumento da abstenção nas sucessivas eleições em Portugal, não deve ser encarado como falta de interesse, mas a constatação da ocorrência de práticas pouco claras e dignas, onde recorrentemente se constata o compadrio, a corrupção e a ausência de atitudes salutares de cidadania.
Na sua equipa autárquica camarária, bem como na União das Freguesias de Setúbal, estão presentes respectivamente Carla Guerreiro e Nuno Folques.
Conheço-os muito bem. São ambas pessoas de grande honestidade, integridade e carácter, sem desprimor para os restantes membros, naturalmente.
Concluo esta crónica, augurando-lhe de forma muito sincera, as maiores felicidades no desempenho do seu cargo e um mandato repleto de Alma Setubalense.