Cancro da Mama: um rastreio para todas as mulheres ou para cada mulher?
Têm sido várias as notícias que alertam para um aumento do número de casos de cancro em adultos jovens. Na mulher, sendo o cancro de mama a principal causa de morte por cancro, esta tendência também se verifica, com um maior aumento da incidência em mulheres com menos de 50 anos. A incidência de cancro da mama aumenta substancialmente aos 40 anos, com taxas de incidências duas vezes maiores para mulheres entre os 40-44 anos e três vezes maiores para mulheres entre os 45-49 anos comparativamente a mulheres entre os 35-39 anos. Um em cada seis cancros ocorre em mulheres entre os 40-49 anos. É, por isso, com entusiasmo que aguardamos a publicação da norma pela Direção Geral da Saúde para incluir no rastreio todas as mulheres a partir dos 45 anos, como foi noticiado recentemente. Mas será que é suficiente? O rastreio populacional tem como critério único a idade e não considera o risco individual de cada mulher. Suscetibilidade genética, fatores que afetam os níveis hormonais, estilo de vida e densidade mamária aumentam o risco de cancro da mama, desconhecendo-se os mecanismos e contribuição relativa de cada fator no seu desenvolvimento. Uma abordagem individualizada nas mulheres com maior risco permite aumentar a deteção precoce do cancro, ou seja, identificar tumores mais pequenos e menos agressivos e, consequentemente, com tratamentos mais eficazes. Este conceito de rastreio personalizado tem ganho destaque recentemente e envolve estratificar o risco de cada mulher, atribuindo um grupo de risco (risco médio, risco intermédio e alto risco) e personalizar recomendações em relação à modalidade (mamografia, tomossíntese, mamografia com contraste, ecografia e ressonância magnética) e frequência do rastreio. A mamografia é, sem dúvida, a principal modalidade para a deteção precoce nas mulheres de risco médio e que mostrou reduzir a morte por cancro em mulheres com mais de 40 anos. Além disso, também reduz a necessidade de cirurgias agressivas e quimioterapia. O rastreio anual resulta na deteção de cancros mais pequenos e menos cancros de intervalo, isto é, cancros que ocorrem após um exame negativo e antes do próximo exame de rastreio. Portanto, o American College of Radiology (ACR) e a Society of Breast Imaging (SBI) recomendam mamografia anual a partir dos 40 anos. Nas mulheres com risco intermédio e alto deve ser considerado um rastreio mais intensivo e precoce, com recurso a outras modalidades, designadamente ressonância magnética. Com o conhecimento de que dispomos hoje, é possível ir além do rastreio populacional. Cada mulher deve ter a possibilidade de uma avaliação individual do risco, que está recomendada aos 25 anos, e um rastreio personalizado.