Prazo de 24 horas para fim da paralisação do Porto de Setúbal não foi alerta de desespero, foi ultimato ao sindicato, que acabou por ceder

Como as coisas se fazem.

Atentando bem na cronologia final do processo de negociação sobre o conflito laboral no Porto de Setúbal, é evidente o jogo de manipulação da opinião pública e de pressão sobre o sindicato.

O acordo entre os estivadores e a Operestiva não foi fechado logo a 30 de Novembro, quando as partes chegaram a entendimento para a contratação de 56 trabalhadores, porque as empresas de trabalho portuário de Setúbal exigiram o fim da greve às horas extraordinárias. O Sindicato dos Estivadores e Actividade Logística (SEAL) recusou essa exigência e manteve a greve.

Esse diferendo manteve-se até esta sexta-feira, e teve de ser o sindicato a ceder, apesar da greve pouco ou nada afectar a laboração do Porto de Setúbal.

O SEAL viu-se na contingência de ter de aceitar o cancelamento da greve às horas extraordinárias em Setúbal – que era apenas por solidariedade com Leixões e Caniçal” – tendo somente uma promessa do Governo de que vai resolver o problema nestes portos.

Para que o acordo fosse assinado na sexta-feira, os representantes de sindicato e patrões, que já vinham numa maratona silenciosa desde o inicio do mês, intensificaram as negociações durante o dia e a noite de quinta-feira.

Daí o ultimato da Autoeuropa ao final do dia de quinta-feira. Ao comunicar, na fase crítica da negociação, que dava apenas 24 horas para que paralisação do porto ficasse resolvida – sob ameaça de parar a produção por tempo indeterminado – a empresa alemã não estava só a lançar um alerta de desespero. O que a Autoeuropa fez foi um ultimato ao sindicato que acabou por constituir a estocada final na resistência dos sindicalistas.

Ainda assim, o sindicato obteve o essencial do que os trabalhadores pretendiam e, nessa medida, a luta dos estivadores atingiu os objectivos.