As crianças e jovens são agentes culturais do presente

As crianças e jovens são agentes culturais do presente

As crianças e jovens são agentes culturais do presente

25 Agosto 2023, Sexta-feira

Helena Sardinha Pereira: “As artes plásticas, a música, a dança, a história, o património são a nossa identidade e uma preciosa fonte de inspiração para conceber novos paradigmas de existência.”

 

É-me difícil abordar a cultura sem falar de educação e de história, pois constituem uma tríade essencial para a compreensão de uma sociedade e para a formação de identidades individuais e colectivas. Através da cultura e da educação passamos às novas gerações a nossa história, as nossas experiências comuns, confrontamo-las com modos de vida e visões do mundo de outros povos e civilizações, permitindo–lhes que se conectem com a realidade circundante e com as suas raízes, que desenvolvam a empatia e entendam quem são e que sentido pretendem dar à sua vida. No entanto, hoje devemos ser mais do que meros consumidores de cultura. Cabe-nos, enquanto professores, autarcas, técnicos da cultura e pais o importante papel de formar as crianças e os jovens para serem agentes culturais do presente. É essencial confiar e proporcionar–lhes o espaço que necessitam e merecem para intervir de forma activa, responsável e esclarecida na sua comunidade através da participação e dinamização de projectos – artísticos, literários, científicos, associados ao património e, assim, preservarem, revitalizarem, transformarem o tecido local e desenvolverem um sentido de pertença e identidade cultural, olhando para si próprios como parte integrante de um legado histórico e construtores do seu devir.

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Com estes objectivos em mente, criei em 2018, juntamente com as professoras Maria Filomena Veloso e Lina Heitor, do Agrupamento de Escolas de Casquilhos, no Barreiro, o projecto Caminhos (Com) Sentidos, ao qual se juntaram, mais tarde, as docentes Ana Milheiro, Eduarda Salgueiro, Fabiana Silva e Maria Helena Oliveira. Este projecto tem como foco a planificação de actividades culturais centradas nos alunos, realizadas com, por e para eles através do trabalho colaborativo entre docentes de diferentes áreas disciplinares e ciclos de ensino dos vários agrupamentos do concelho, a autarquia e os parceiros locais (museus, arquivos, associações culturais). Orientados pelo princípio de que no Barreiro há talento, é-lhes solicitado que investiguem, pensem, usem a imaginação e concretizem projectos inspirados no seu património e no diálogo intercultural.

Nesta óptica, promoveram-se actividades de preservação e revitalização da cultura no Barreiro, em grande parte patrocinadas pela câmara Municipal. Foram realizadas oficinas de dança renascentista e barroca para alunos e professores no Convento da Verderena e na escola. Em conjunto com os docentes de História do ensino secundário dos Casquilhos e dos outros agrupamentos do concelho efectuaram-se as Jornadas Pedagógicas de História Local –“Barreiro: passado, presente e futuro”, que juntaram autarcas, técnicos do Museu Industrial do Barreiro, do Espaço Memória e do Museu do Aljube, investigadores, a Associação de Professores de História, a Fundação Amélia de Mello e a Universidade da Terceira Idade. Os protagonistas do evento foram os estudantes que apresentaram os seus trabalhos de pesquisa sobre vários temas, desde a CUF até à guerra colonial, para a comunidade educativa do Barreiro ali presente. No próximo ano lectivo as jornadas serão dedicadas ao Barreiro do 25 de Abril.

Um outro projecto iniciado em 2021 foram as Viagens ao Mundo da Música – concertos comentados que exploram diferentes géneros musicais, do jazz, às músicas do mundo e, em concreto, à Lusofonia. Este ano realizou-se também uma viagem ao mundo da dança. Esta actividade uniu profissionais, amadores e alunos, num espectáculo singular, que deu a oportunidade aos estudantes de poderem revelar os seus talentos, incentivando-os a desenvolvê-los.

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Em 2021 realizou-se o I Concurso de Contos – Barreiro: passado, presente e futuro que contou com a participação de alunos da pré ao secundário, em articulação com os museus e arquivos locais. Esta iniciativa de escrita criativa e investigação histórica culminou na publicação de um livro de contos ilustrado pelos alunos e patrocinado pela autarquia e numa cerimónia que juntou toda a comunidade – alunos, docentes, famílias, autarcas e parceiros locais. Foi uma oportunidade de mergulhar na história do Barreiro, conectando os alunos com tradições, figuras curiosas e inspiradoras. Este ano, prosseguimos com o II Concurso de Contos, mas desta vez aberto a todos os agrupamentos do concelho.

Uma outra actividade cultural que vem ao encontro das dinâmicas já referidas são os Percursos no Tempo – roteiros histórico–literários criados e guiados pelos alunos nos espaços do Barreiro e Lisboa. Calcorreando ruas, observando monumentos e museus, associando-os a figuras e às suas histórias de vida, os alunos do secundário vão desvendando a história local para os seus colegas mais jovens do 4.º ao 9.º ano, num diálogo interdisciplinar.

Outros projectos de articulação curricular foram sendo realizados sempre com o foco no saber fazer e saber ser, no trabalho cooperativo e na revitalização da cultura: as Conferências do Casino Casquilhense, bem como as Tertúlias no Convento da Verderena, dinamizadas com, por e para alunos num debate vivo sobre o sentido da arte, da religião, da cultura, da política e da história e a arte de entrevistar dirigida por alunos do secundário a vários escritores e investigadores sobre diversas temáticas urgentes e ainda silenciadas, nomeadamente a forma como foi sentida a guerra colonial na nossa terra por quem a viveu do lado de cá e do lado de lá.

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As artes plásticas, a música, a dança, a história, o património são a nossa identidade e uma preciosa fonte de inspiração para conceber novos paradigmas de existência.

Investir na cultura e na educação é investir no futuro e na construção de uma sociedade mais justa, tolerante, criativa e sustentável, pois estimula a inovação, a capacidade empreendedora e o desenvolvimento de competências necessárias para uma participação activa na sociedade. A cultura enriquece o processo educacional, tornando-o mais envolvente, holístico e significativo. Uma educação de qualidade, que valorize a cultura, revitalize tradições em risco, promova a criatividade e o pensamento crítico, prepara os indivíduos para enfrentar os desafios do mundo contemporâneo.

Professora de História da Escola Secundária de Casquilhos, Barreiro

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