Para não variar o turismo continua na ordem do dia. Recentemente decorreu a Bolsa de Turismo de Lisboa (BTL), o grande certame do setor em Portugal, e foi a oportunidade de sabermos mais sucessos desta galinha dos ovos de ouro.
Claramente não embarco nesta euforia. Bem vistas as coisas, esta indústria de cada vez mais gente ir para mais longe, mais rapidamente e por menos, é um produto do nosso tempo com uma fatura de valor incalculável, inevitavelmente, a cobrar um dia, como sempre. Entretanto, andamos distraídos e contentes, encantados com as hordas de turistas na Torre de Belém que em 15 minutos despacham a coisa, na melhor das hipóteses chupando um Olá. Tudo o que estamos a vender como produto turístico todos os outros têm, muitas vezes melhor. Em oposição o património natural que devemos viver e vender é único e de grande valor. Lamentavelmente em Portugal não há turismo de natureza, o turismo onde a comunidade local é o principal protagonista e que cria riqueza muito para além de fazer camas e aparar relva em hotéis de cinco estrelas. Não existe o produto “turismo de natureza” em Portugal. Pior, em Portugal na generalidade a natureza proíbe-se no literal sentido da expressão. Quando assim é, como pode haver turismo de natureza? Há, isso sim, iniciativas avulsas e pontuais que nada têm a ver com produto estruturado. Obviamente, como tudo em Portugal, salvo honrosas exceções. A natureza só faz sentido se for “exaustivamente” viva e vivida, mas em Portugal é problemático ter uma casa num parque natural e não se pode acampar na margem de um rio. Há em Portugal um capital natural fabuloso e um mercado brutal à porta ávido do que só nós temos (o mercado da Europa rica sem biodiversidade, igrejas e castelos todos têm e não é fator diferenciador). A Arrábida e o Sado têm um valor incalculável. Confesso, convictamente, que foi uma sorte a Arrábida não ser classificada património da UNESCO, já não há paciência para tanto “património UNESCO”. A mais valia é a marca Arrábida, “não património da UNESCO”, os patrimónios da Arrábida vão muito para além. Os autarcas locais apenas têm que cumprir o seu dever: exigir do Ministério do Ambiente a total gestão do território e a partir daí estruturar a marca Arrábida Natural. Olhe-se aqui para o lado, Espanha, onde tudo é diferente para muito melhor com o exemplo, persistente de décadas, das Astúrias à cabeça. Por cá, há mais de dez anos, a Naturtejo, mostra como se faz.
Portugal igual a si próprio, pobre e contente.