Aprender a gostar de ler

Aprender a gostar de ler

Aprender a gostar de ler

9 Outubro 2017, Segunda-feira
Francisco Cantanhede

Gostar de ler não é um dom que acompanhe o ser humano ao nascer; é uma aprendizagem que, como qualquer outra, implica esforço e tempo. Quanto mais se pratica, mais se gosta. Estou convicto que o meu gosto pela leitura nasceu quando era criança ao ouvir homens e mulheres analfabetos afirmarem que «não saber ler é como não ver». Por outro lado, apercebi-me que, naqueles tempos, quem sabia ler era muito solicitado e respeitado, sendo visto como alguém que «sabia muito.» Ainda aluno da então escola primária, já gostava de ler, contudo, para além dos manuais escolares, não havia livros disponíveis, o que me levava a acreditar que o acesso a esse recurso tão raro seria privilégio dos muito ricos. Já adolescente comecei por ler obras de Júlio Dinis. Fiquei extasiado! Sentia-me nos lugares referidos nas obras, a conviver com as personagens, a torcer pelas que me parecia terem razão.

Uma das minhas principais preocupações enquanto pai e professor foi despertar nos meus filhos e alunos o gosto pela leitura. Partilho consigo, amigo leitor, a experiência vivida com a minha filha, uma leitora compulsiva, hoje com vinte e sete anos. Logo no berço, todos os dias a Ana ouvia histórias ao deitar; tornou-se um hábito, passando a menina a não conseguir adormecer sem a companhia da Branca de Neve, dos Três Porquinhos, do Capuchinho Vermelho… Nos primeiros anos de vida, a Ana aprendeu a viver entre livros, lia o pai, lia a mãe, e assim apercebeu-se que os pais também gostavam de ler. No seu quarto havia uma prateleira com livros, podendo ela mexer-lhes, folheá-los, e até riscá-los. Levava alguns para o banho onde os folheava.  A leitura era acompanhada de algumas perguntas, como: se fosses o Capuchinho Vermelho também te tinhas desviado do caminho indicado pela mãe? Qual dos três porquinhos era mais trabalhador? O que ganhou ele com isso? Ou seja, deve-se aprender a ler com espirito critico. Quando a Ana aprendeu as primeiras letras, as primeiras frases, os seus progenitores liam um parágrafo a filha lia outro. À medida que a menina ia crescendo, os pais selecionavam os livros mais indicados para a sua idade. Desde a Anita… até uma Aventura…; Maria Teresa Maia Gonzalez tornou-se uma das suas autoras preferidas. O seu professor de Português do 3º ciclo solicitava, quinzenalmente, a leitura de um livro e a elaboração da respetiva critica, o que também foi importante para a Ana se tornar leitora compulsiva. Ah, se a Ana tivesse nascido rapaz, obviamente, também teria lido os livros da Anita.

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Caro leitor, provavelmente estará a pensar como conseguiam os pais da Ana arranjar tempo para diariamente dar continuidade à atividade de leitura. Conscientes de que a aposta na educação, na cultura, é a melhor herança que se pode deixar aos filhos, por vezes, assumo, era necessário fazer alguns sacrifícios. Recordo momentos de enorme cansaço, em que fechava os olhos antes de a Ana adormecer. Certo dia a fadiga levou-me a cometer um erro: saltei algumas páginas de uma história que a menina já conhecia. Logo ela reagiu: não papá, não é assim…Não voltei a saltar páginas. O despertar do gosto pela leitura pode estar escondido numa, apenas em uma, das páginas de um livro.

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