A cidade do Montijo, antiga Aldeia Galega do Ribatejo, deve a sua designação actual a um dos seus mais antigos topónimos: o lugar do Montijo.
A mais antiga referência a este topónimo remonta ao ano de 1248 e aparece-nos numa carta de doação de uma propriedade, no então chamado “Riba Tejo”, feita por João Martins, prior de Santa Marinha do Outeiro, de Lisboa, a Pedro Domingos, nomeando-o senhor, defensor e patrono do hospital que tinha edificado no lugar do “Montigio”[1].
No mesmo lugar é referido, em documento de 1249[2], a existência de uma albergaria. Por esta última doação, a albergaria do Montijo recebe do mesmo prior da Igreja de Santa Marinha, D. João Martins, todos os direitos que este possuía numa quinta de “Alpiriate” e numa quinta do “Canafrechal”, ambas nesta zona.
O mesmo prior de S. Marinha do Outeiro impõe, também, uma parte dos rendimentos de uma quinta que doa a um seu parente, no ano de 1260 – uma propriedade “junto ao riacho da Lançada” – , com a condição de ser dada anualmente a quarta parte dos seus rendimentos à mesma albergaria do Montijo, em pão, vinho e linho (“lini”)[3]
No lugar onde hoje está instalada a Base Aérea Nº 6 existiam, na Idade Média, um cais de embarque, uma albergaria e um hospital, para apoio aos viajantes, que nele faziam a travessia de e para Lisboa.
É frequente, nesta época, as albergarias terem o seu hospital, acumulando as funções de abrigo e de hospício. A documentação utiliza os dois termos: por um lado, a albergaria do Montijo, referida nas doações acima descritas de 1249 e 1260, por outro, o hospital do Montijo, referido como tendo sido edificado pelo prior João Martins e nomeado Pedro Domingos seu defensor e patrono.
Antes do aparecimento do núcleo populacional conhecido por Aldeia Galega do Ribatejo – o que só viria a acontecer entre 1306 e 1321–, apenas se conhece este antigo lugar do Montijo, onde os viajantes esperavam por uma maré favorável à travessia para Lisboa na barca aí existente.
A primeira referência a residentes na área da actual cidade do Montijo, mais concretamente à Barrosa, data de 1306, uma época em que não se conhecem, ainda, provas documentais da existência do lugar de Aldeia Galega do Ribatejo
Essa prova surge-nos num documento de aforamento datado de 5 de Janeiro de 1321, onde nos aparece o topónimo “Aldeia Galega do Ribatejo”, ainda hoje a mais antiga referência a este lugar, hoje designado de cidade do Montijo[4]. E durante o século XIV, pouco mais sabemos do antigo lugar de Aldeia Galega, para além da existência de tabelião (referido em 1346) e de uma “casa de Sancti Spiritu” (mencionada em documento de 1349), possivelmente, a antiga confraria e albergaria do Espírito Santo.
A existência e a actividade desta antiga Albergaria e Hospital do Espírito Santo de Aldeia Galega está devidamente documentada no seu livro do tombo, redigido entre os anos de 1489 e os anos de 1501 e 1502, pertencente ao fundo da Misericórdia do Montijo e, hoje, depositado no Arquivo Municipal do Montijo.
Nas visitações feitas ao concelho da então Aldeia Galega, no ano de 1512, é referido como o “Espritall da dita villa”, um edifício que tinha de comprimento 11 varas e meia (à volta de 12,65 metros)[5]; na visitação posterior que lhe faz referência, de 1534, chamavam-lhe de “Espritall do Espiritu Sancto”[6].
Os bens e as obrigações desta antiga albergaria e hospital do Espírito Santo, já referenciada no século XIV e devidamente documentada desde 1489, foram anexados pela Misericórdia do Montijo, por força de uma carta régia de D. Sebastião, datada de 13 de Outubro de 1574[7], dando despacho favorável a um requerimento enviado pelos oficiais da então Câmara da vila.
A principal razão apresentada para o pedido de anexação do Hospital pela Misericórdia tinha a ver com a necessidade de acudir a pobres, doentes e peregrinos que por aqui passavam. Diz assim o documento: “… avendo respeito a ser luguar de muita pasagem por omde continuão muitos pobres e outras pessoas necessitadas…” (f. 58r). O despacho favorável, saído em carta régia, diz assim: “… Ey por bem e me praz de anexar e ajuntar à Casa da Misericórdia da dita villa o dito esprital e remdas delle … (f. 58r). E nesta transferência fazem, igualmente, parte os doentes e peregrinos do hospital: “asi no que tocar a suas heranças como aos doemtes e perigrinos que a elle se forem curar e agasalhar…” (f. 58v).
[1] CORREIA, Francisco. Aldeia Galega do Ribatejo: séculos XIII a XV. Montijo: Câmara Municipal, 2001, p. 7
[2] Idem. Ibidem, p. 15
[3] Idem. Ibidem, p. 6
[4]Idem. Ibidem, p. 27, doc. 4.
[5] IAN/TT, Ordem de Santiago e Convento de Palmela, Códice nº 156, f. 8 r
[6] Idem, Códice nº 256, f. 4v
[7]IAN/TT, Chancelaria de D. Sebastião e D. Henrique, liv. 9, f. 58 r-58 v