Em Maio, mês em que todo o mundo celebramos o dia do trabalhador, não podemos (nem devemos) fugir às temáticas das questões laborais e dos direitos dos trabalhadores.

Gostaria porém de abordar este tema de uma perspectiva um pouco diferente. Naturalmente que temas como as questões sindicais, lutas por melhores condições salariais e de trabalho, contratação colectiva, legislação laboral, entre outros, são deveras importantes e terão que fazer parte do pensamento e da acção quotidiana de todos os agentes, sejam eles trabalhadores, sindicatos e centrais sindicais, empregadores e políticos.

A evolução da sociedade, traz-nos actualmente novos e acrescidos desafios, e cabe a governos, empresas e sociedade em geral encontrarem soluções, que não comprometendo o desenvolvimento económico e o crescimento, permitam que os direitos dos trabalhadores não sejam postos em causa, e que estes, sendo o elo mais frágil, sejam prejudicados, como infelizmente muitas vezes assistimos.

Como sociedade pretendemos cada vez mais a ter acesso constante a produtos e serviços. As empresas por seu lado, têm interesse no alargamento do horário de funcionamento, pois no caso do comércio ou serviços, os seus produtos estão disponíveis aos seus clientes mais tempo. No caso de unidades industriais, estas conseguem níveis de produção maiores para que o seu investimento tenha um retorno mais rápido.

Em consequência deste novo paradigma, temos cada vez mais pessoas com horários que não são compatíveis com o horário comum da restante sociedade, o que coloca desafios acrescidos à vida familiar, ao acompanhamento do crescimento e desenvolvimento dos filhos ou mesmo a qualquer outro tipo de situações do foro privado de cada individuo.

Esta questão é de crucial importância, que com os graves problemas demográficos que enfrentamos, acaba por representar uma forte ameaça ao aumento da natalidade e à renovação geracional.

A globalização aliada à evolução tecnológica nas comunicações, potenciada agora como a generalização do teletrabalho, permite que a barreira da distância seja facilmente quebrada por um computador ou por um telefone, numa sociedade que constantemente está ligada à rede.

A tecnologia não permite, no entanto, ultrapassar as diferenças horárias ou mesmo culturais entre os vários pontos do planeta, causando cada vez mais a invasão do espaço privado e dos tempos de descanso e de laser, com consequências nefastas para o bem-estar e para a saúde dos trabalhadores e de suas famílias.

É importante assegurar o direito a desligar, salvaguardando os tempos que só aos trabalhadores pertencem. Ignorar este problema, ou colocar o foco da análise e das reivindicações em meras questões secundárias, não é na minha opinião a melhor maneira de defender os trabalhadores e de encontrar soluções para os novos problemas e desafios que quer os partidos políticos, quer os sindicatos têm de enfrentar e de encontrar soluções inovadoras.