Algarve, férias e uma conversa esclarecedora

Algarve, férias e uma conversa esclarecedora

Algarve, férias e uma conversa esclarecedora

, Professor
26 Agosto 2019, Segunda-feira
Giovanni Licciardello - Professor
Giovanni Licciardello – Professor

 

Este ano estival, fui mais uma vez para o Algarve. Lagos, Barlavento Algarvio que é o meu preferido, em particular no troço compreendido entre Lagos e Sagres, locais onde a especulação imobiliária e as aberrações urbanísticas que encontramos infelizmente um pouco por todo o Algarve (e não só), ainda não se fizeram sentir. Em Lagos existe um cuidado acrescido com as construções, obedecendo a uma matriz urbanística que lhe confere coerência e bom gosto.

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Ainda estive para escrever “a banhos no Algarve”, mas sinceramente banhos mesmo, só na piscina, uma vez que no mar… nem pensar.

 

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Vento forte, frio e constante de Noroeste, extremamente desconfortável e água do mar gélida, não mais que 18/19ºC.

 

Com a água do mar assim tão fria, torna-se virtualmente impossível eu tomar banho. Gostaria de não ser tão friorento, mas…não consigo mesmo.

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Uma das minhas filhas teve ter seguramente genes de pinguim ou de urso polar, porque qualquer que seja a temperatura, enfia-se logo dentro de água e aí permanece por tempo indeterminado.

 

Seja como for, nunca dou o tempo por perdido, uma vez que aproveito para passear nas praias (Meia-Praia, Praia D.ª Ana e Porto de Mós).

 

Como nunca vou de férias sem vir munido dos meus livros, uma das actividades balneares favoritas, é estar confortavelmente instalado numa cadeira de praia, à sombra, a usufruir do prazer da leitura.

 

Desta vez tinha comigo uma biografia de Mikhail Gorbachev da autoria de William Taubman, vencedor de um Prémio Pulitzer. É um livro excelente, extremamente pormenorizado, historicamente rigoroso, que aconselho vivamente a todos aqueles que apreciam o prazer da leitura, em geral, e a História Contemporânea, em particular, como é o meu caso.

 

O livro de Gorbachev serviu de mote de conversa com um casal francês que se encontrava a alguns metros do local onde estava “acampado”.

 

O senhor “meteu-se” comigo e começamos a filosofar sobre a personalidade de Mikhail Gorbachev. Eu, no meu francês “macarrónico” e os senhores arranhando ainda um português muito incipiente.

 

Então dissertámos sobre política mundial; Portugal, França, passámos em revista a “galeria dos horrores”: Trump, Putin, Maduro, Bolsonaro, Erdogan, Kim Jong Un, Órban. Depois, a coisa melhorou: De Gaulle, Francois Mitterand, Sá Carneiro, Mário Soares, etc. etc.

 

Acabámos em beleza recordando Jean Moulin, um dos elementos preponderantes da Resistência Francesa contra a ocupação nazi, durante a 2ª Guerra Mundial, que foi preso, torturado e assassinado pela tenebrosa Gestapo. Sabia de tudo, mas nunca abriu a boca.

 

Quando passámos às questões pessoais, descobri que ambos os senhores eram, tal como eu, professores. Ela, de Filosofia; ele, de História.

 

 

Reformados, decidiram vender a casa que tinham nos arredores de Paris e mudaram-se para Lagos, há cerca de um ano.

 

Clima ameno (não parece), vantagens fiscais, segurança, tranquilidade, excelente gastronomia, simpatia, enfim…tudo aquilo que torna o nosso país um local aprazível.

 

De repente, disseram-me qual o montante das respectivas reformas.

 

Um montante obsceno, mesmo tendo em conta que o nível de vida em França é superior ao de Portugal.

 

Perguntei-lhes se aquilo que auferiam chegava para viverem confortavelmente em França. Responderam-me que sim, que chegava e sobrava. Em Portugal, vivem como príncipes.

 

Quanto os informei sobre quanto aufere um professor em Portugal, desde o início até ao topo da carreira, exclamaram “Mais ce n’est pas possible!!!”.

 

É, infelizmente, trés possible.    

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