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Ainda a propósito do aniversário do “Zeca”

Ainda a propósito do aniversário do “Zeca”

Ainda a propósito do aniversário do “Zeca”

11 Março 2020, Quarta-feira
Fernando Firmino

Num texto memorável sobre José Afonso: O Homem e a Obra (in Movimento Cultural, n.º 4, revista editada pela Associação dos Municípios do Distrito de Setúbal, em Fevereiro de 1988), José Jorge Letria, que agora preside à direcção da Sociedade Portuguesa de Autores (SPA), diz-nos que “nunca Zeca deixou de associar o rigor estético à exigência ética, daí resultando a força e a perenidade do seu exemplo (…), de uma vida e de uma obra que são património nacional e universal.” Igualmente elucidativo é o que recorda o seu próprio irmão, João Afonso dos Santos, no seu livro biográfico José Afonso: Um Olhar Fraterno (ed. Caminho, 2002): “(…) a política como acção cívica; e também ética, acrescento, porque as duas vertentes eram para ele inseparáveis”.

A este propósito, é digno de nota o “ritual” celebrado, todos os anos, na cidade do Sado! Na merecida e singela evocação da data do falecimento de José Afonso (Aveiro, 2.8.1929-Setúbal, 23.2.1987), o genial poeta, cantor e compositor é saudosamente recordado por alguns dos numerosos admiradores (e, em particular, pelo seu fraternal amigo Leonel Coelho, histórico resistente antifascista, respeitado militante comunista e dinâmico dirigente da Academia Musical de Alhos Vedros, concelho da Moita, entidade organizadora da tradicional romagem), que, recentemente, de forma emocionada, foram visitá-lo na simples campa onde repousa, no cemitério de N. Senhora da Piedade.

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Na altura em que acabamos de comemorar, do modo menos “efémero” possível, mais uma efeméride da partida do admirável cantautor, há um aspecto particularmente curioso e crucial da sua biografia que não deve passar em claro: a edição, em 1969, do excelente álbum Contos Velhos, Rumos Novos, um LP que, curiosamente, integrou a inolvidável exposição evocativa daquele ano decisivo (nas lutas académicas e políticas contra a feroz repressão do regime fascista), que tivemos oportunidade de apreciar, há tempos, na Biblioteca Nacional [de Portugal], em Lisboa.

“Era de noite e levaram/Quem nesta casa dormia/ Sua boca amordaçaram/Com panos de seda fria (…)”. Assim cantava José Afonso, há cerca de meio século, no seu disco acima referido, assumindo, nesta inesquecível canção, sobre poema de Luís Pignatelli (1935-1993), a corajosa denúncia das prisões aleatórias e arbitrárias da PIDE/DGS. O perseguido e solidário criador de êxitos inconfundíveis, como, entre (muitos) outros, Canção de Embalar, Filhos da Madrugada, Verdes São os Campos, Só Ouve o Brado da Terra, Os Vampiros, Cantigas do Maio, Coro dos Tribunais, Coro da Primavera e Venham Mais Cinco, reavivava, deste modo, o espírito humanista dos “hinos” estética e ideologicamente interventivos, perspectiva de acordo com a qual, um dos mais sagrados direitos democráticos do artista e cidadão activo é o de expressar livremente os seus pensamentos e as suas opiniões.

Ex-candidato à Câmara de Setúbal
pelo PCTP/MRPP

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