Agora é que é

Agora é que é

Agora é que é

, Deputada da IL
27 Maio 2022, Sexta-feira

Aproveitando a metáfora futebolística utilizada pelos clubes que durante épocas consecutivas não ganham títulos, “agora é que é” a vez do Seixal.

Sim, agora é que o Seixal vai ter o seu, há muito prometido, hospital.

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Estas não são palavras minhas, mas da ministra da Saúde, na discussão deste Orçamento de Estado. Uma promessa há muito por cumprir (as reivindicações começaram em 2001), alvo de muitas discussões e obstruída pela falta de recursos públicos ou pelas impugnações apresentadas.

Com 53 milhões de euros de orçamento para a construção do Hospital do Seixal, mais as verbas do Plano de Recuperação e Resiliência para equipamento, e com os devidos respaldos jurídicos, o Governo afirma que agora está em condições de cumprir esta promessa.

Estará mesmo? Se a promessa for “apenas” a de edificar um hospital, o PS estará provavelmente em condições de a cumprir. Porém, construir o edifício, por si só, e equipá-lo, não é a parte mais difícil.

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Quantos milhões serão necessários para funcionar? Existirá capacidade para a manutenção das instalações e equipamentos? E relativamente aos recursos humanos? Quando outros hospitais do distrito, como o São Bernardo (Setúbal) ou o Garcia de Orta (Almada), encerram urgências ou entram em rutura por falta de médicos, enfermeiros ou outros profissionais, sendo que muitas das vagas de concursos para a contratação de pessoal ficam vazias, que garantias temos de que o Hospital do Seixal terá os recursos necessários para funcionar na plenitude?

Terá o hospital os meios humanos e materiais adequados que permitam aos seus profissionais não sentirem pressões e dilemas éticos relacionados com a qualidade do seu trabalho? Não será mais um a engrossar o problema – identificado num estudo recente sobre enfermagem em Portugal – de uma grande maioria de enfermeiros que afirma sentir-se muitas vezes em “sofrimento ético”?

Sim, 85% dos enfermeiros afirmam sentir que fazem tudo o que podem e, mesmo assim, têm a consciência de que isso não chega. Sim, 55% confessam que já agiram contra os códigos de ética e normas de conduta por constrangimentos materiais ou orientações da respetiva instituição.

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Nenhuma destas perguntas tem, até ao momento, resposta. É preocupante, pois as populações das freguesias de Amora, Corroios, Fernão Ferro ou Seixal, bem como as de concelhos limítrofes, precisam de um hospital próximo com urgência – não de um centro de saúde XXL com o pomposo nome de hospital.

O que o PS está a prometer é o costume: despesa para o contribuinte, dívida para as gerações futuras e pouco ou nenhum retorno, no presente, para as pessoas que deveriam beneficiar desta infraestrutura tão necessária. E não, isto não pode ser.

A população do Seixal, onde resido, assim como a dos concelhos vizinhos, precisa de hospitais e de cuidados de saúde primários dignos desses nomes, seja a oferta pública, privada ou do setor social, desde que articulada, eficiente e, sobretudo, que garanta liberdade de escolha às pessoas.

Os portugueses estão cansados de filas de espera, enquanto lhes dizem “agora é que é”.

Agora tem mesmo de ser.

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