“Aberração”.
“Drogada”.
“Pareces uma morta”.
Foi com estes epítetos que, no passado dia 13 de fevereiro, vários deputados de um grupo parlamentar se dirigiram a uma deputada da Nação em pleno debate no plenário da Assembleia da República.
A visada integra a bancada parlamentar do Partido Socialista, mas tal não poderia ser mais irrelevante. Do BE ao CDS, do PCP à IL, do Livre ao PSD e ao PAN, não há quem não tenha sido tocado pelo aviltante véu de indignidade com que o Chega conspurca diariamente a Casa da Democracia.
Para o “estado a que isto chegou” em muito tem contribuído a reiterada prática de tolerar a intolerância na condução dos trabalhos parlamentares. O paradoxo da tolerância, tão bem enunciado por Karl Popper, demonstra de forma inequívoca que a Presidência da Assembleia da República não pode continuar a permitir que o plenário se transforme numa arena de achincalhamento ou numa sarjeta política onde os ´bullies` de serviço trocam os argumentos pela ofensa, as ideias pelo preconceito, os valores pela iniquidade. O legado de Aguiar Branco ficará indelevelmente marcado pela candura com que permite o enxovalho diário da Democracia.
As palavras vertidas no poema “É Preciso Agir”, não podiam ser mais atuais:
“Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro
Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário
Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável
Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei
Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo”
Urge, pois, agir. Não basta condenar veementemente os vis e reiterados ataques é preciso agir com determinação na defesa da nossa Democracia.