Num tempo em que as Alterações Climáticas e as suas consequências são já uma evidência indesmentível, apenas negada sem surpresa pelo inenarrável protagonista “de turno” na presidência dos EUA e por alguns dos seus mais fiéis seguidores, surgiu a semana passada uma notícia que reputo de muito importante no nosso País.
De acordo com informação tornada pública pela REN, no passado mês de março a eletricidade produzida no nosso País a partir de fontes renováveis ultrapassou o consumo ocorrido no mesmo intervalo de tempo em todo o território de Portugal Continental.
Mais, de acordo com a mesma fonte, a eletricidade produzida atingiu em Março os 4.812 GWh para um consumo no mesmo período de 4.647 GWh, representando assim a produção um rácio de 103,6% face ao consumo verificado. Ou seja, em Março, Portugal foi a este nível autossustentável, o que acontece pela primeira vez em mais de 40 anos, e apenas a partir de fontes renováveis!
Esta foi uma notícia que, pela sua importância, não teve, na minha opinião, o destaque que deveria ter tido por parte da nossa comunicação social.
A Sustentabilidade Ambiental, de que a eficiência energética é uma vertente absolutamente inultrapassável, é talvez o maior dos desafios com que a Humanidade está confrontada nas próximas décadas!
O Mundo, tal como o conhecemos desde a Revolução Industrial, assentou o seu processo de desenvolvimento no uso massivo dos combustíveis fósseis. No entanto, nos últimos anos fomos brutalmente confrontados com duas realidades inultrapassáveis.
A primeira é a de que os combustíveis fósseis, como o carvão, o petróleo ou o gás natural, são recursos não renováveis e as suas reservas, com o uso intensivo que lhes demos para atingir os atuais patamares de desenvolvimento das sociedades modernas, estão a caminhar a uma velocidade galopante para o seu esgotamento.
A segunda, na minha perspetiva a pior, é a de que essa carbonização intensiva em que se sustentou o desenvolvimento económico das sociedades atuais tem deixado uma pegada ecológica com grave impacto na vida do planeta, consequência da crescente (e até há poucos anos incontrolada) poluição decorrente deste uso dos hidrocarbonetos, e que está na origem das alterações climáticas que já hoje vivemos e que se tenderão a agravar substancialmente no futuro se não arrepiarmos rapidamente caminho na inversão deste paradigma.
Até porque não tem sido apenas ao nível dos combustíveis fósseis que temos usado os recursos naturais disponibilizados pelo planeta (muito) para além da sua capacidade de os repor e regenerar. Tal também tem acontecido com o uso das árvores, do solo ou da água, que durante muito tempo achámos serem ilimitados, provocando desta forma um grave desequilíbrio que, a perdurar, muito em breve poderá mesmo colocar em causa a nossa própria sobrevivência enquanto espécie neste planeta.
Basta pensar no caso da água, esse bem imprescindível à vida e que tanto desperdiçamos.
Convencidos de que a superfície do planeta é constituída em cerca de 75% por água, esquecemo-nos de que, de toda essa água, apenas 3% é água doce, e desses 3% estima-se que apenas cerca de 1/3 dessa água se encontra em condições de acessibilidade direta para o consumo humano. O que deveria ser lembrado todos os dias!
É pois neste contexto que esta notícia que comecei por referir neste artigo relativa ao caminho que Portugal está a fazer de forma sustentada para alcançar a sua eficiência energética é tão importante! Falta, no entanto, ainda muito por percorrer neste caminho do País para a sua Sustentabilidade Ambiental, sendo que, para além da eficiência energética, também o desafio do uso eficiente e racional da água é absolutamente fundamental e decisivo!
A este propósito, termino com a boa notícia também do final da passada semana de que, com as chuvas ocorridas este ano, com especial incidência no mês de março e no corrente mês de Abril, a situação de seca vivida no País desde Abril do ano passado, com as consequências trágicas que conhecemos, já só afeta neste momento 0,1% do nosso território, existindo apenas 3 barragens abaixo dos 40% da sua capacidade, ainda que infelizmente todas na bacia do Sado.