Como português, setubalense e republicano que sou, fico bastante orgulhoso quando leio e tenho conhecimento histórico que um dos acontecimentos mais marcantes para a consagração da República, ocorreu precisamente aqui em Setúbal.
Com efeito, em Abril de 1909, decorreu o Congresso do Partido Republicano, no antigo Teatro Rainha D. Amélia, rebaptizado com a República, Teatro Avenida.
Mais tarde, aquando da construção do novo edifício, denominou-se Cine-Teatro Luísa Todi, mudando finalmente o seu nome para Fórum Luísa Todi.
Nesse congresso, decidiu-se pela acção armada, que viria a culminar no 5 de Outubro de 1910, um dos nossos feriados nacionais mais importantes, emblemáticos e representativos e que felizmente voltou a ser feriado de novo, após um interregno perfeitamente incompreensível.
Nessa ocasião, decorreu a intervenção oratória de Ana de Castro Osório, ao lado de grandes vultos do partido, como Manuel de Arriaga e Bernardino Machado, onde saiu em defesa de um papel mais activo da mulher na sociedade portuguesa e da igualdade de direitos entre homens e mulheres.
Passados cem anos, em 2009, procedeu-se à colocação de uma placa comemorativa, assinalando a efeméride.
Eu sabia que tinham colocado uma placa nas imediações do Fórum e, embora a tivesse procurado na ocasião, ainda não a tinha encontrado. Entretanto, nunca mais me lembrei da placa.
Até que recentemente, quando esperava pela abertura das bilheteiras do Fórum, casualmente olhei para o chão, e com grande estupefacção minha, detectei finalmente a placa.
Se pretender apreciar a referida placa, dificilmente o conseguirá fazer, uma vez que esta não está colocada na parede do Fórum Luísa Todi, como nos diria o bom senso, mas… em plena rua, no pavimento adjacente, próximo das bilheteiras do Fórum.
Está no chão para ser pisada repetidamente, sem ser detectada e muito menos lida.
Se alguém se apercebe que é uma placa informativa, dificilmente conseguirá ler o seu conteúdo, uma vez que está escrito em cinzento escuro, sobre placa marmórea da mesma cor. Só quando o sol bate de Nascente e de esguelha, é que se consegue ler. Mas com evidente dificuldade.
Convido o leitor a deslocar-se aí e constatar o que estou a tentar explicar.
Tenho muita dificuldade em compreender quais são os mecanismos decisionais, que levam a que se cometam semelhantes asneiras, tão óbvias, quanto evitáveis, em que várias pessoas estão envolvidas, sem que ninguém dê um murro na mesa.
Todavia, fizeram isso mesmo com o auditório do Largo José Afonso, com as quadrúngulas, e agora com a placa.
Ao colocarmos uma placa ilegível no pavimento, estamos a transmitir a ideia que o Congresso Republicano foi um acontecimento qualquer, sem a importância histórica que merece.
Numa altura em que se celebra o 150º aniversário do nascimento de Ana de Castro Osório, seria oportuno retirá-la do pavimento e colocá-la em lugar de destaque.
Daí que sugiro, como referi atrás que esta placa seja retirada do chão e se coloque outra, com caracteres bem visíveis, em contraste, ou seja: placa de cor clara, informação escrita de cor escura e colocá-la numa das paredes do Fórum Luísa Todi, para que a informação historicamente relevante, possa ser lida e apreciada por todos.