A palavra é uma arma, mas na Moita semprede cravo no cano, certo?

A palavra é uma arma, mas na Moita semprede cravo no cano, certo?

A palavra é uma arma, mas na Moita semprede cravo no cano, certo?

13 Fevereiro 2025, Quinta-feira
Eleita CDU na Freguesia da Moita

Tenho de partilhar convosco a desilusão que sinto quando leio certos textos ou ouço determinados discursos da parte de alguns dos actuais protagonistas políticos desta terra, uns cá nascidos e outros que rapidamente se esquecem da terra e das gentes que os acolheu. E refiro protagonistas apenas por serem estes que constantemente insistem em escrever textos e comunicados cheios de palavras vãs, protagonistas que, se por um lado homenageiam, por outros e tão depressa como beber um copo de água, ofendem, por “dá cá aquela palha”, usando as palavras de modo pouco abonatório, por vezes de modo leviano, falacioso, mas a maioria das vezes de modo desrespeitoso e até cruel. Quando ouvimos dizer que a “palavra” é uma arma, é verdade, foi muitas vezes o modo como foi usada que permitiu este povo se libertar, mobilizar-se, permitiu que presos políticos se defendessem, foi com palavras que se escreveram as mais bonitas canções e tantas outras coisas tão bonitas como livros, letras de musica, poemas, estas mesmas palavras que, na minha opinião, pelos actuais protagonistas deviam ser usadas para as pessoas e pelas pessoas, pela Moita e para os moitenses, de modo a informar, esclarecer, instruir, sensibilizar, valorizar, construir. É que antes e cá nesta vila da Moita, as palavras eram simples e respeitosas, sem engenho, sem malicia.
Nasci felizmente numa terra, onde em vez de vassalagem, havia respeito, em vez de ofensas havia vontades, era malta habituada a trabalhar em colectivo e para o colectivo. De vez em quando também saia um “tás parvo” e como resposta “parvo és tu”, mas a malta queria lá perder tempo com quezílias. E realmente não perderam, é um facto, construíram muita coisa bonita nesta terra com as palavras, as Maravilhas da nossa terra, o Sonho de Branca Flor, a Sinfonia Campestre, o Fado da Moita, poemas, peças de teatro, gente que acompanhava à viola e guitarra as palavras, bandas filarmónicas, gente que mesmo sem palavras parecia dizer muito.
O certo é que agora, neste momento em que escrevo e relembro, vem-me à memoria que foi logo após a palavra ser livre, logo após os que tiveram a coragem já terem construído a linha para essa palavra livre e solta, que alguns começam a usar as palavras para seu próprio benefício para com elas trazer a si próprios o brilho e o protagonismo que nunca teriam não fossem muitos outros.
E assim a palavra começou a ser “explorada”, tal como tudo o que pode ser usado pela ala do “chico-espertismo” desta vida e eu não entendo como é que as nossas gentes aceitam isto, impávidos e serenos? Eu cá vou indo, meio contrariada, a ler e ouvir coisas que me causam tristeza, coisas que tiram a beleza e a pureza das palavras, coisas que dão um apontamento impróprio e até mesmo indecente, coisas feias que estes ditos antes “chicos-espertos” e hoje “protagonistas” políticos têm coragem de dizer e escrever, têm a sem-vergonhice de arrancar o cravo desta maravilhosa arma.
A palavra foi, é e terá de ser sempre uma arma, mas uma arma contra a exploração, contra as desigualdades, contra quem nos quer amordaçar ou nos quer mudos, mas a minha nunca será uma arma de arremesso de uns contra os outros, de ódios, de injustiças ou inverdades.
Sonho que nesta terra as palavras sejam sempre as que honram os Zés Casimiros, os Madeiras, os Leoneis, os Manueis, os Hermenegildos, as Talhadas, os Russos, os Zés Luis, os Gregórios, e todos os homens e mulheres de palavra que sem pretensões de luzes da ribalta ou tentativas de menosprezar os outros, se deram à Moita e aos Moitenses, muitas das vezes anonimamente, elevando sempre a” palavra”, arma sempre pacifica de cravo no cano.

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