Recentemente tive ocasião de ver na televisão um excelente de filme alemão intitulado “A Oeste Nada de Novo” referente à 1ª Guerra Mundial, baseado no romance de Erich Maria Remarque.
Erich Maria Remarque nasceu em 1898, tendo-se tornado num dos mais importantes escritores alemães do séc. XX. Banido pelos nazis por ser descendente de judeus franceses, viu os seus livros serem atirados para a fogueira e foi exilado em 1933 sob acusação de fazer propaganda contra os nazis.
Posteriormente, Remarque viu o seu trabalho reconhecido ao mais alto nível da Literatura, tendo sido um dos grandes candidatos ao Nobel na sua época.
A partir do livro “A Oeste Nada de Novo”, foi realizado o filme com o mesmo nome.
Em 1914, um professor incentiva uma turma de estudantes alemães – jovens e idealistas – a alistar-se para a “guerra gloriosa”. Todos o fazem, movidos pelo ardor e pelo patriotismo próprios da juventude. Mas o seu desencanto começa logo durante a recruta.
Mais tarde, ao embarcarem no comboio que os levará à frente de combate, constatam as feridas terríveis sofridas sob o impacto das bombas e das metralhadoras. É o seu primeiro vislumbre da realidade da guerra. Não será o último.
Nas trincheiras, um a um, os rapazes começam a tombar em combate.
Tal como o filme “1917” de Sam Mendes, o filme “A Oeste Nada de Novo” de Edward Berger transporta-nos directamente para as trincheiras, local simbólico onde se desenrola todo o drama de guerra.
Sentimos o cheiro a sangue, suor, sujidade, lama, ratos, medo, pavor. Não existem heróis; existe sim a luta por uma sobrevivência primária; matar e não ser morto.
A morte está sempre omnipresente; rapidamente os jovens perdem a inocência.
Uma cena particularmente chocante e perturbadora é a luta corpo-a-corpo entre o protagonista alemão Paul Bäumer e um soldado francês em que o primeiro apunhala o segundo, mas perante o estertor da morte do soldado francês, o alemão tenta salvá-lo, não o conseguindo.
Outra cena simbolicamente importante é o encontro entre os responsáveis alemães e aliados, durante a assinatura do Armistício, onde estes humilharam os germânicos de forma insensata, dando origem a um orgulho ferido e a um forte ressentimento que proporcionou, nos anos 30, a conquista do poder a Adolph Hitler.
Com a 1ª Guerra Mundial, a Alemanha e a Rússia registaram cerca de 2 milhões de mortos cada; a França e a Áustria-Hungria, 1,4 milhões cada; Grã-Bretanha, 960 000 mortos; Itália, 600 000 mortos; Império Otomano, 800 000 mortos; Estados Unidos, 120 000 mortos, somente para referir as baixas mais significativas.
Relativamente a Portugal, entre 1916 e 1918 partiram para a Guerra mais de cem mil soldados portugueses, que combateram em África e em França. Portugal registou quase 20 mil baixas, o que faz de Portugal um dos países proporcionalmente mais flagelados.
Em todas as zonas atingidas pela guerra, as perdas de vidas humanas foram devastadoras.
Ninguém pode sequer fazer uma estimativa e calcular o número de feridos, cujas vidas ficaram definitivamente afectadas como resultado desta guerra. Lesões físicas, acarretando deficiências gravíssimas e lesões psicológicas marcaram para toda a vida milhões de pessoas. O que sobreviveram, carregaram até ao fim dos seus dias o esmagamento da personalidade, a destruição dos sonhos e stress pós-traumático.
Todos pensavam que iria ser uma guerra rápida, fulminante, com o objectivo de regressar o mais rapidamente possível para casa.
Aquilo que foi pensado para durar cinco meses, durou quatro anos. O mundo novo prometido não passou de uma ilusão.
A 1ª Guerra Mundial não foi a guerra decisiva; foi somente a primeira de muitas que haveriam de se seguir: 2ª Guerra Mundial, Coreia, Vietname, Tibete, Guerras Israelo-árabes, Afeganistão, Kuwait, Iraque, Irão, Malvinas, Angola, Moçambique, Sudão, Etiópia, Somália, Balcãs, Geórgia, Crimeia, Ucrânia, Líbia, Síria, terrorismo, Daesh, atentados, etc.
Contudo, com a 1ª Guerra Mundial, a Humanidade atingiu seguramente um dos seus pontos mais baixos de sempre.
A Dor, a enorme Dor Humana, individual e colectiva, essa é, de facto, a característica que perdura.
Com os filmes “A Oeste Nada de Novo” retratando a 1ª Guerra Mundial, e “A Queda” de Oliver Hirschbiegel, retratando a 2ª Guerra Mundial, com um notável Bruno Ganz a interpretar uma das melhores personagens de Hitler, a Alemanha acaba, quanto a mim, por fazer as pazes como seu passado.