20 Maio 2024, Segunda-feira

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A Liberdade passou por aqui

A Liberdade passou por aqui

A Liberdade passou por aqui

Adaptei um verso de uma canção de Sérgio Godinho, “A Liberdade Está a Passar por Aqui” (Maré Alta, 1972), para dar título a esta reflexão sobre os meus dias 25 de Abril e primeiro de Maio de 1974. Isto porque há 47 anos, fui protagonista de alguns dos momentos que ficaram na história da nossa democracia.

Com 21 anos, à época, e a viver em Lisboa, cedo acordei com os sons das transmissões via onda curta das movimentações dos militares naquela madrugada do dia 25 de Abril de 1974.

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Eram os ventos da liberdade que sopravam, particularmente, no meio estudantil e operário à volta de Lisboa e outros grandes centros urbanos do país.

E logo, me pus em movimento para o ponto mais nevrálgico das operações, o largo do Carmo. Aí, uma multidão sustinha a emoção sentida pelo ultimato repetido por Salgueiro Maia à rendição do presidente do Conselho de Ministros, Marcelo Caetano.

E aquando da passagem da “Bula”, a chaimite redentora, um grito de liberdade colectivo fez-se ouvir naquela praça, qual rua da Betesga, pequena demais para todo um país que nesse grito se reconhecia.

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Estava em marcha este movimento que se verificou ser irreversível no caminho da liberdade e da democracia no nosso país e o protagonista passivo aqui faz de narrador.

O segundo momento, agora já como protagonista activo, aconteceu no primeiro de Maio, desse mesmo ano de 1974, na então vila do Montijo.

Existem fotografias a documentar o evento. Uma figura alta, de óculos, cabelo e barba compridos, retrata a minha pessoa. Do que me recordo, aqui lhes deixo este testemunho: éramos jovens, maioritariamente sócios e dirigentes do Ateneu Popular do Montijo; alguns miúdos do Orfanato do Montijo, juntamente com a sua directora, também se associaram à manifestação.

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Era uma manifestação apartidária, e para além de serem contrários ao anterior governo de ditadura, não se conhecia qualquer filiação partidária aos seus componentes; ao longo do percurso, os passeios enchiam-se de gente surpreendida com esta primeira manifestação em liberdade na sua terra e ainda muito expectantes quanto às consequências da mesma. Recorde-se que, à época, não era ainda certa a consolidação de um governo democrático no nosso país e tudo, ainda, seria possível, mesmo o regresso ao antigo regime. Daí, certamente, a pouca adesão da comunidade mais adulta.

O único incidente a referir, assisti-o bem perto de mim e não me senti muito confortável: passou-se com a minha antiga professora e directora do colégio que tinha frequentado, o Externato do Sagrado Coração de Jesus.

Inadvertidamente, cruzou-se com a frente da manifestação e de pronto uma bandeira vermelha rodopiou à sua frente em atitude de hostilidade, num único e brevíssimo confronto entre uma figura do antigo regime e alguém que fora perseguido pelo mesmo, o senhor Pisco (pai).

Nem todos se aperceberam deste incidente que o dia era de tolerância e a Liberdade estava a passar por aqui.

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