No artigo anterior apresentei uma análise sobre a dificuldade que os Setubalenses têm ao encarar o mercado imobiliário actualmente. Mas quais serão as causas que a invocam? O que está a inflaccionar os preços e rendas?
Ao contrário das visões míopes que muitos agentes partidários tomam sobre esta problemática, os motivos de ser do agravamento considerável desta dificuldade é multifactorial e podemos categorizá-lo, resumidamente, em três grupos: construção, demografia e especulação. E tenha-se em mente que estes grupos influenciam-se mutuamente.
Construção: os custos, tanto de material como de mão-de-obra, têm vindo a aumentar. O aumento no custo de material deve-se às perturbações a que estão sujeitas as cadeias de valor sobre os materiais de construção – desde a situação da pandemia, até às situações geopolíticas que presenciamos. Ao nível da mão-de-obra, o custo também tem vindo a aumentar que é justificado pela tentativa de criar salários mais atractivos aos portugueses que emigram para desempenhar o mesmo tipo de funções. A morosidade de licenciamentos é outro factor que demove a construção.
Demografia: deu-se um aumento demasiado alto na população do concelho no decorrer de uns meros 5 anos – ou seja, a evolução populacional não se deu organicamente desde 2020 – o que resulta numa maior pressão da procura. Por conseguinte, esta pressão coloca em causa a sustentabilidade do mercado imobiliário ajustado à capacidade de resposta do povo. Isto é verdade independentemente do estrato social de origem.
Especulação: os investidores de compra/revenda, fundos imobiliários, bem como de construtoras olham para as tendências como as do turismo – que é constantemente cá promovido – e operam em conformidade com a sua perspectiva de mercado. Por outras palavras, os valores são inflacionados e as construções não se adequam à realidade da maioria: um exemplo disto é a quantidade de habitações de condomínios de luxo que contrasta com a quantidade de habitações de valores mais modestos.
Enquanto não houver regulação nestas matérias, a degradação da situação socioeconómica do concelho continua em progresso.