Na sua dimensão competitiva, o desporto apresenta uma relação de oposição entre dois adversários. A figura jurídico-desportiva a quem compete cumprir, e fazer cumprir, as regras de determinado desporto, bem como mediar essa oposição, que muitas vezes se torna uma autêntica peleja, reveladora dos instintos mais grosseiros e primitivos do ser humano, é denominado de árbitro.
Ser árbitro é, sem dúvida, uma atividade nobre, que exige um compromisso de honra, integridade, responsabilidade e equidistância entre os oponentes. Quem escolhe ser árbitro tem de possuir uma excelente condição física, liderança, comunicação, gestão de conflitos, concentração na tarefa, elevado controlo emocional e capacidade de tomar decisões rápidas.
Sendo também um desportista, o árbitro tem uma unidade de tempo diminuta para tomar decisões. No sentido de combater este constrangimento, ao longo dos anos a tecnologia tem oferecido meios acrescidos para responder às limitações de ordem temporal. Primeiro com os famosos sinais bip; depois com os intercomunicadores; mais recentemente com o sistema de vídeo-árbitro (VAR).
Importa também referir que o árbitro é sujeito a avaliação contínua para exercer as suas funções: exames médicos, provas físicas e escritas, assim como avaliações em campo. Este processo de avaliação determina, no final da época, quem sobe e quem desce de categoria.
Isto dito, os problemas da arbitragem passam hoje, em primeiro lugar, pela captação e retenção dos árbitros e, num segundo patamar, pela formação contínua dos árbitros nas áreas do conhecimento das regras e regulamentos, na preparação física e psicológica, e no acompanhamento e aperfeiçoamento do árbitro.
Impõe-se, pois, valorizar a função do árbitro, lembrando que o exercício das suas funções apresenta dificuldade elevada e a condição humana está sujeita ao erro.
No desporto profissional, exige-se a todos os agentes desportivos uma certa contenção nas declarações sobre a arbitragem. Impõe-se uma conduta que privilegie uma imagem positiva das competições, sob pena de se estar a destruir o conceito comercial de desporto enquanto espetáculo, afastando potenciais por essa via patrocinadores que não querem ver o nome das suas empresas associados a eventos que apresentam comportamentos, ou comentários, que possam ser negativos para a sua imagem.
No desporto de formação, da mesma forma, só existe efetiva formação de jovens em contextos onde se privilegia o respeito pelas regras, pelo adversário e pelo árbitro. Por certo ,nenhum pai ou mãe deseja que o seu filho pratique desporto num meio onde insultar o árbitro seja uma prática normal.
Neste âmbito, felicitamos, o IPDJ que lançou recentemente a campanha nacional “Não seja bully de bancada. Não ensine ninguém a ser”. Esta iniciativa pretende dissuadir modelos que levam à perpetuação de comportamentos violentos e discriminatórios.
Valorizar a importância social do árbitro parece-nos ser o próximo passo. É importante não esquecer que os árbitros jovens são semelhantes aos praticantes de formação, encontrando-se em fase de aquisição de competências e a necessitar de apoio para evoluírem tecnicamente. No final da linha, o desporto só pode melhorar com melhores árbitros.
No desporto, os verdadeiros vencedores são aqueles que obtêm a vitória respeitando as regras, os adversários e os árbitros.
Termino com duas notas. A primeira para felicitar a representação portuguesa nos Jogos Europeus, a qual conquistou 16 medalhas em modalidades tão distintas como o atletismo, a canoagem, a esgrima, o karaté, o muay thai, o ténis de mesa, o padel, o tiro e o futebol de praia.
A segunda nota para expressar que foi com tristeza que assisti à eliminação da seleção de futebol de sub-21 nos quartos de final do europeu. Ficou, assim, de fora dos Jogos Olímpicos de Paris em 2024. Num momento de derrota, não posso deixar de recordar o excelente trabalho realizado ao longo dos anos pelo treinador Rui Jorge, a quem endereço a partir daqui um abraço solidário.