Durante meio século, com desafios concretizados, mas também reveses inultrapassáveis, Portugal tem vindo a construir um sistema democrático que inegavelmente trouxe ao povo português uma qualidade de vida que era uma miragem no outro quase meio século anterior, o da ditadura. Não vou listar as inúmeras conquistas, mas exijo-me dar nota de uma ou outra: os níveis de escolaridade e qualificação contra o miserável analfabetismo imposto porque dava jeito; as plenas taxas de saneamento básico e abastecimento de água contra o uso do penico vazado numa qualquer e única pia quando havia, e o carregar da bilha para garantir tudo, mesmo o aquecer da panela de água para o banho semanal, a mortalidade infantil e a esperança de vida que passou do patamar da desonra para níveis civilizacionais, a negação do direito das mulheres poderem ser magistradas ou diplomatas, ou o direito ao voto universal não lhes ser extensível antes do 25 de abril de 1974…….E tanto, tanto mais.
Sei que passaram 50 anos e a memória é curta para alguns, e, deixemo-nos de hipocrisias, saudosa, descaradamente saudosa, para outros, objetivamente para os dirigentes do CHega cujo uso dos 50 anos, nesta campanha, aí pelos outdoors, não é mais nem menos do que colocar em causa o atual regime. O CHega é contra o regime democrático e tudo fará para o colocar em causa.
É por isso que o “ não é não” de Luís Montenegro é irrelevante, quando se comporta como um irresponsável e de duvidosa lisura política. Este seu comportamento abre espaço à bazófia da extrema direita.
Os eleitores estão em estado de fadiga eleitoral e a culpa é de Montenegro. Na sua fuga para a frente, promoveu exatamente aquilo que sabia que se fizesse desencadearia eleições.
O Partido Socialista viabilizou a eleição do Presidente da Assembleia da República do PSD, deixou seguir o Programa de Governo, deixou passar o Orçamento de Estado para 2025, inviabilizou duas Moções de Censura ao Governo, uma do PCP e outra do CHega, e deu nota, mais do que uma vez, que não o poderia fazer com uma Moção de Confiança apresentada pelo Governo. Luís Montenegro ao apresentá-la, e tendo conhecimento do desfecho, adotou uma postura arrogante, com um objetivo político provocador àquele que afinal tinha sido o único a dar-lhe condições de governação, o PS.
Estimados e estimadas eleitores, o Partido Socialista apresentou um consistente e exequível programa eleitoral, o compromisso é manter o equilíbrio orçamental, Pedro Nuno Santos enfrentou dossiers difíceis, a verdade é que deixou a TAP a dar lucro, um programa de habitação que Montenegro anda agora a inaugurar (!), naquele grande protesto dos camionistas salvou todo o país de parar por falta de combustível, ativou a resposta ferroviária… E agora? Como diz o sábio povo, não nos deixemos emprenhar pelos ouvidos.
Pedro Nuno Santos sorri menos? ( que argumento este !)
Luís Montenegro sorri mais ? Pois, fá-lo quando mente como se fosse uma verdade. Fá-lo quando anuncia uma tristeza como se fosse uma alegria. É caso para dizer, estás-te a rir para mim ou a rir-te de mim?
Certo é que há a escolher entre a fadiga eleitoral e o que pode ser melhor para o nosso presente e futuro próximo. O resto é mesmo só resto!