De repente todos se esqueceram das touradas. O foco agora é a estrada de Borba, uma “estrada” que se chama Portugal. Andamos agora à caça de um culpado com direito a Policia Judiciária, Ministério Público e uma ridícula fiscalização do Ministério do Ambiente às pedreiras do Alentejo em 45 dias ordenada pelo Governo, etc., etc. Na prática Portugal igual a Portugal à procura de um bode expiatório que justifique mais uma desgraça. No mínimo não nos esqueçamos da ponte que caiu em Itália, das catastróficas inundações em França, do desmoronamento de prédio em pleno centro urbano alemão ou do fogo na Califórnia., etc. Em matéria de riscos naturais é assim. Sabemos que as ocorrências catastróficas já aconteceram e vão voltar a acontecer em todos os locais, regiões e países (pobres e ricos), só não sabemos quando e onde. Também podemos afirmar com certeza, que este tipo de ocorrências, que causam danos humanos e materiais, serão cada vez mais frequentes, intensos e imprevistos. Acresce ainda que Portugal é um país particularmente perigoso devido à sua posição geográfica e tectónica. Este é o contexto natural com que temos de viver todos os dias. Apesar de tudo isto, há muito que se deve fazer e não se faz. Não se pode negar que os taludes das pedreiras de Borba nos falam antecipadamente e que no caso concreto na Universidade de Évora sobejam décadas de estudo, e consequente saber que pode, e deve minimizar, e muito, o risco. A geologia, a que ninguém liga, tem as suas “leis”. Desde logo os recursos geológicos estão onde estão. Escolhemos, mal ou bem, o lugar do novo aeroporto de Lisboa, mas os Mármores de Estremoz é ali que estão. Quem está mal, “ilegal”, é a fatídica estrada, as pedreiras só podem estar mesmo ali. A não ser que não queiramos explorar mármore como não queremos petróleo. É opção do país. Imagine-se, sem qualquer responsabilidade conhecida de quem quer que seja, o Cevalor – Centro Tecnológico da Pedra Natural de Portugal, um investimento de muitos milhões dos nossos impostos, com sede precisamente em Borba (ironia do destino?), fechou a porta insolvente. Alguém ouviu falar? Obviamente que nada disto passa pelo autarca de Borba. Este apenas se tem de queixar que a “sua” estrada foi abaixo. Esta é a verdade de que este país sempre foge. Gostamos imenso do “faz de conta”. Faz de conta que há um responsável pela tragédia de Borba e que Portugal nada tem a ver com a coisa.